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Metade da população de favelas e morros pertence à nova classe média Segundo a pesquisa do IBGE, essas pessoas nem sempre se enxergam como parte da classe C 22/10/2012 Segundo a pesquisa do IBGE, essas pessoas nem sempre se enxergam como parte da classe C Celita de Jesus Souza, de 29 anos, sabe bem como é necessário se dedicar ao trabalho para aumentar a renda da família. Passou por momentos de fome na infância e mesmo com toda essa dificuldade, a empreendedora individual faz hoje parte da maior parcela da população: a classe média. A trabalhadora mora em Nova Palestina, na região da Grande São Pedro. Ela integra um grupo de pessoas da classe C que residem em regiões de periferia. Segundo dados do IBGE, metade da população de favelas e morros pertence à nova classe média. Em 2010, de acordo com o IBGE, cerca de 3 milhões de pessoas moravam em regiões chamadas aglomerados subnormais – favelas, invasões, grotas, comunidades, baixadas ou vilas. Aproximadamente, 1,6 milhão dessas casas são de famílias de classe média. O curioso é que essas pessoas nem sempre se enxergam como parte da classe C. No caso de Celita, ela viveu num lugar ainda mais pobre. Migrou do estado de extrema pobreza para uma vida de conforto há dois anos quando saiu de Ilhéus, na Bahia, para encontrar oportunidades em Vitória. Na sua cidade natal, Celita e seu marido, Robson Coser, de 29 anos, chegaram a ter que sustentar dois filhos com uma renda mensal de R$ 50. Hoje, eles têm ganhos bem mais altos. Em meses de vacas gordas, conseguem faturar até R$ 8 mil. Com recursos, oferecem aos seus filhos a oportunidade que não tiveram durante a infância e a adolescência: de estudar e de fazer cursos técnicos. A situação financeira dessa família começou a melhorar quando Celita deixou o emprego numa pizzaria para abrir duas lojas de roupa, na Região de São Pedro. Robson continuou com o emprego de segurança para dar sustentabilidade ao negócio. Em 11 meses, o casal conseguiu comprar a casa própria e ainda investir em mais dois imóveis. "Compramos as casas por um preço que não compraríamos em outros bairros. Em um dos imóveis, fizemos duas quitinete com a intenção de alugar. A outra residência também foi locada", diz Celita. Apesar de estar num bom momento, o casal acredita não pertencer à classe média. "Trabalhamos de domingo a domingo. Não temos folga nem feriado. Isso não é vida de classe média", diz Robson. Para ele, sua família só será classe média depois que tiver dinheiro para adquirir um carro e mantê-lo. "Ainda ando de ônibus e preciso trabalhar muito para pagar um dos imóveis que compramos", diz Robson. Hoje, os critérios para avaliar se uma família é classe C vai além do local onde mora. Os institutos de pesquisa levam em conta o padrão de vida desse público, os itens de conforto do lar e as expectativas de crescimento. Já o governo ver na renda per capita familiar um quesito para definição das classes sociais do país. O presidente do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), Marcelo Neri, explica que hoje são usadas três dimensões para enquadrar alguém numa classe social. "O primeiro critério é a renda. O segundo é o capital social daquela família, se ela tem casa própria, eletrodomésticos, equipamentos eletrônicos, computador e qual o nível de instrução do chefe do lar. O terceiro item é o plano de ascensão social", diz. Segundo Neri – que era professor do Centro de Politicas Sociais da Fundação Getúlio Vargas e autor de vários livros sobre o tema –, a classe C brasileira é a que a está mais uniforme com o perfil mundial. "Muitas pessoas têm um olhar americano ou europeu para a classe média. Lá, as famílias têm dois cachorros, dois carros e um alto padrão de vida. Aqui e no restante do mundo, a classe C tem dois filhos e uma renda muito menor, mas nem por isso ela deixa de ser classe média. Seria preconceito não enquadrá-las nesse grupo", afirma. Entre os trabalhadores que já foram considerados pobres, mas que hoje pertencem a classe C estão os garis, as empregadas domésticas, as faxineiras e os garçons, como Wando Alves da Cruz, de 23 anos. Ele veio de uma família com renda baixa. Começou a trabalhar bem cedo para ajudar a família. Com o salário, fez cursos na área de barman e hoje é gerente do restaurante Caieiras, na Ilha das Caieiras em Vitória. Ele e sua esposa, juntos, têm uma renda mensal de R$ 4 mil. "Hoje, tenho um novo padrão de vida. Consegui comprar um lote, construir minha casa no bairro Nova Canaã, em Cariacica. Tenho carro e uma situação estável. Antes, eu não tinha condição nem de ir a um shopping. Agora, podemos ir passear com a família. Acho que pertenço sim a classe média", diz. Wando conta que o avanço das suas finanças permite ter acesso a alguns serviços essenciais, antes impossíveis de se usufruir, como plano de saúde. "Meu padrão de vida melhorou tanto que até consigo juntar dinheiro para realizar planos futuros". A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE), da Presidência da República, tem adotado uma definição específica para analisar a classe média. O órgão dividiu o público em três grupos: a baixa classe média, composta por pessoas com renda familiar per capita entre R$ 291 e R$ 441; a média classe média, com renda compreendida entre R$ 441 e R$ 641; e a alta classe média, com renda superior a R$ 641 e inferior a R$ 1.019,00. Um novo país O Brasil por muitos anos era visto como um país de alta desigualdade social. No passado, 10% da população concentrava 40% da renda nacional. E as diferenças estão cada vez mais se diluindo com o desenvolvimento da economia. Durante os últimos 10 anos, o Brasil viveu melhorias sociais significativas. A educação começou a atingir a um maior número de cidadãos. A questão demográfica também foi decisiva para que muitas famílias deixassem a pobreza para serem consideradas classe média. Com um perfil mais jovem, o país passou a ter uma população economicamente ativa muito maior, o que trouxe dinamismo às rendas das famílias. Apesar de a desigualdade social ter reduzido, o país ainda precisa investir no crescimento econômico das famílias. Dados da SAE apontam que hoje apenas 1% da população do país tem renda per capita superior a R$ 5 mil; 5% possuem renda per capita de R$ 2,5 mil; e 10% conseguem viver com renda de R$ 1,6 mil a R$ 2.480. Veja também |