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CUT-RS rejeita extinção da Ceitec e defende investimentos em ciência e tecnologia Uma comissão de funcionários enviou uma carta para a CUT-RS, pedindo o apoio de trabalhadores e trabalhadoras contra o fechamento da Ceitec 16/06/2020 Divulgação A CUT-RS rejeita a extinção da Ceitec (Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada), encaminhada pelo governo Bolsonaro, e defende investimentos públicos em ciência e tecnologia para o desenvolvimento econômico e social do País. A empresa foi incluída no Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), que visa desmontar políticas públicas de fomento à economia brasileira. “Temos que impedir a liquidação dessa empresa, inaugurada no governo Lula e instalada na Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, que é estratégica e fundamental não somente para a política de semicondutores, mas para a microeletrônica do Brasil. Não há futuro para uma indústria forte e inovadora sem tecnologia de ponta. Os gaúchos serão os maiores perdedores se Bolsonaro acabar com a Ceitec”, afirma o presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci. Ele lembra que nos últimos anos várias alternativas foram debatidas para potencializar a empresa. “O Sinpro-RS e o Senge-RS construíram propostas envolvendo a Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) para estimular pesquisas e parcerias, buscando abrir novos horizontes diante dos problemas enfrentados”.Amarildo ressalta que agora o caminho é fortalecer a resistência, a exemplo dos funcionários da Ceitec, que deram um abraço simbólico ao prédio da empresa, junto com o Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre, na última quarta-feira (10). “Estamos juntos para debater a manutenção da empresa com a sociedade e construir mobilizações, buscando pressionar o governador Eduardo Leite (PSDB) e os parlamentares gaúchos para barrar esse tremendo retrocesso”, destaca Amarildo. Punhalada na indústria 4.0 do Brasil Para o engenheiro, professor e ex-deputado estadual Adão Villaverde, a extinção da Ceitec “é uma punhalada na estratégia da indústria 4.0 do Brasil". Ele foi um dos principais articuladores da criação da empresa, quando era secretário da Ciência e Tecnologia no governo Olívio Dutra. “Tivemos uma disputa grande com São Paulo, mas lá o projeto seria uma espécie de laboratório dentro da Universidade de São Paulo (USP). A proposta gaúcha agradou mais por ser mais ampla e envolver diversos atores. O projeto ganhou forma em 2000, quando um protocolo de intenções foi firmado entre os governos municipal, estadual e federal, instituições de ensino superior e empresas privadas (incluindo a Motorola). As atividades do Centro de Design, onde são desenhados os projetos de chips, começaram nos parques tecnológicos da UFRGS e da PUCRS, em 2005. No mesmo ano, também começou a construção do prédio. Em 2008, o governo Lula (PT) decidiu encampar o projeto e, por meio de decreto presidencial, foi criada a Ceitec como empresa pública federal. Em 27 de março de 2009, o prédio Administrativo e o Design Center da empresa foram inaugurados. Em 5 de fevereiro de 2010, Lula veio inaugurar a chamada Sala Limpa da fábrica. “Não dá para confundir os limites da Ceitec com o seu potencial estratégico. Nunca foi o propósito ser uma gigante global de semicondutores, e sim uma indutora da política microeletrônica do País, o que de fato aconteceu”, explica Villaverde. Em artigo publicado no Jornal do Comércio desta segunda-feira (15), ele alerta que o fim da empresa seria “a condenação e a submissão, tecnológica e inovativa, das futuras gerações”. Sabotagem no governo Temer No governo Dilma (PT), a Ceitec esteve focada em um projeto de desenvolvimento de microchips para passaportes. Era algo inovador que serviria de referência para nações estrangeiras e poderia gerar mais de R$ 25 milhões em receita, conforme levantamento da própria empresa. A pesquisa foi abortada em 2016 por determinação do golpista Michel Temer (MDB), que deu início ao processo de desmonte da estatal. “A Ceitec foi sabotada por Temer e agora está para ser liquidada por Bolsonaro. Com sua extinção, não perderemos apenas um importante aporte de recursos financeiros, mas um laboratório fundamental para os pós-graduandos em Engenharia das universidades federais do Rio Grande do Sul”, denuncia o secretário de Organização e Política Sindical da CUT-RS, Claudir Nespolo. Segundo ele, “o processo de entrega da soberania nacional está a todo vapor. É a segunda fase da campanha de Bolsonaro e que agora começa a ser colocada em prática. O ministro da Ciência e Tecnologia não abraçou a causa do desenvolvimento nacional”. Nespolo enfatiza que “é inadmissível que o governo feche uma importante ferramenta de desenvolvimento científico e tecnológico sem consultar a sociedade e o Congresso Nacional”. Podia ser aliada no combate ao Covid-19 O funcionário da Ceitec e diretor do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre, Edvaldo Muniz, salienta que mais de 250 servidores concursados da empresa e terceirizados perderão seus empregos com o fim das operações. No entanto, as perdas para o mundo da pesquisa e da inovação tecnológica serão ainda maiores, além do fim de importantes receitas anuais nos cofres do Estado. “Com a extinção da empresa, perderemos tudo o que desenvolvemos em termos de pesquisa e de patentes científicas. Hoje temos sensores que são capazes de detectar ao Covid-19 e não podemos desenvolvê-los em larga escala por uma política do governo federal. Quer dizer, temos uma empresa pública capaz de fornecer um importante instrumento sanitário, mas que não é fabricado por falta de interesse público”, critica o dirigente do Sindicato. “A Ceitec não foi criada para gerar lucro, mas para alavancar o mercado de semicondutores e fazer com que não importássemos chips e semicondutores da Ásia, o que ainda hoje causa um déficit de R$ 300 bilhões em nossa balança comercial. Se houvesse interesse do governo, poderíamos ser uma potência no setor”, ressalta. Uma comissão de funcionários enviou uma carta para a CUT-RS, pedindo o apoio de trabalhadores e trabalhadoras contra o fechamento da Ceitec. O documento frisa que foi construído “um capital intelectual significativo nos últimos dez anos, de extrema relevância para o desenvolvimento do país. São profissionais cobiçados internacionalmente, o que vem gerando a emigração, cada vez maior, de quadros altamente qualificados que saem do Brasil para atuar em grandes empresas de tecnologia no exterior”. Para eles, “a Ceitec tem plenas condições de oferecer soluções criativas, eficientes e baratas, utilizando componentes nacionais e fomentando assim a indústria brasileira”. Na contramão de outros países Para o presidente da Sociedade Brasileira de Microeletrônica (SBMicro), Nilton Itiro Morimoto, acabar com a Ceitec seria um sinal de fracasso total e um retrocesso de anos. "A extinção pura e simples é um completo descalabro. Vai matar todo esforço que a comunidade de microeletrônica brasileira fez nos últimos anos para o desenvolvimento desta indústria", alerta. Isso, conforme Morimoto, vai na contramão da tendência de as nações procurarem a independência em segmentos estratégicos. Europa, Japão e Estados Unidos, por exemplo, estão criando fundos de investimentos para a atração de empresas de semicondutores para lá. "Com a pandemia da covid-19, todos viram que não foi uma boa estar na mão da China, que concentra muitas coisas nesta área", analisa.
Fonte: CUT-RS com Jornal do Comércio
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