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CUT-RS defende CLT e Justiça do Trabalho em ato do TRT-RS em Porto Alegre Temos que pegar no pé dos deputados porque eles querem acelerar a reforma da CLT, alertou presidente da CUT 01/04/2017 “Eles estão falando que a CLT é atrasada e gera desemprego. Não é verdade. Há dois anos estávamos em pleno emprego. Não trabalhava quem não queria”, afirmou o presidente da CUT-RS, Claudir Nespolo, durante ato de lançamento em Porto Alegre da campanha nacional em defesa da Justiça do Trabalho, promovida pelos Tribunais Regionais do Trabalho (TRTs). O evento foi realizado no Foro Trabalhista, na Avenida Praia de Belas. “A CLT nunca foi empecilho para gerar empregos e fazer o Brasil crescer”, salientou. Claudir defendeu também a Justiça do Trabalho, “que é muito importante para o trabalhador”. Para ele, “o que gera emprego é desenvolvimento econômico”. O presidente da CUT-RS chamou a atenção para as reformas trabalhista e da Previdência e a terceirização irrestrita, que visam retirar direitos dos trabalhadores e precarizar o trabalho. “Temos que pegar no pé dos deputados porque eles querem acelerar a reforma da CLT”, alertou. Ele defendeu a pressão sobre os deputados nas suas bases eleitorais, como já vem sendo feito pelos comitês sindicais e populares. “Neste 31 de março, estamos descomemorando o golpe de 1964, que atrasou o Brasil em 40 anos. Agora temos que enfrentar a agenda do golpe de 2016, que quer retirar o legado de direitos históricos dos trabalhadores”, ressaltou Claudir. Campanha nacional O ato, que foi realizado por todos os 24 TRTs do país, reuniu centenas de pessoas, entre magistrados, servidores, procuradores, advogados, peritos, representantes de entidades sindicais, trabalhadores, empregadores e demais cidadãos. O objetivo foi chamar a atenção da sociedade para a importância dos serviços prestados pela Justiça do Trabalho e alertar sobre a constante ameaça de fragilização de direitos sociais. A campanha foi idealizada pelo Colégio de Presidentes e Corregedores dos Tribunais Regionais do Trabalho (Coleprecor). A ideia é mostrar que os direitos de patrões e empregados só estarão garantidos com uma Justiça do Trabalho forte e atuante. Promover justiça e paz social A presidente do TRT-RS, desembargadora Beatriz Renck, afirmou que é importante esclarecer para a população a verdadeira função da Justiça do Trabalho. “Nós somos essenciais para a garantia de direitos sociais, para pacificar conflitos entre trabalhadores e empregadores, para promover justiça e paz social”, declarou. Ela afirmou que a Justiça do Trabalho é a justiça que aplica os direitos dos trabalhadores. “Somos campeões em acidentes de trabalho e de doenças profissionais. Nosso papel é garantir que o trabalho seja prestado de forma decente e íntegra para o trabalhador”, esclareceu. A desembargadora também alegou que a terceirização irrestrita irá precarizar ainda mais o trabalho, prejudicando o cidadão que irá trabalhar mais e receber menos. A Justiça do Trabalho é responsável por mediar a relação entre empregador e empregado e busca resolver conflitos de forma harmoniosa entre ambos. “Nós somos essenciais para pacificar os conflitos entre trabalhadores e empregadores e promover justiça e paz social”, ressaltou. A magistrada acrescentou que o Judiciário Trabalhista também atua na resolução de conflitos coletivos, solucionando questões que dizem respeito a toda população. É o caso da mediação de greves, por exemplo. “A Justiça do Trabalho é a mais célere, transparente e eficaz do país. O processo trabalhista é rápido e coloca o cidadão em contato direto com o Judiciário, além de valorizar a conciliação e a solução dos litígios”, analisou. Beatriz também utilizou seu pronunciamento para desconstruir mitos que são divulgados sobre a instituição. Ela refutou a alegação de que a Justiça do Trabalho é responsável pelo elevado número de demandas judiciais no Brasil, e demonstrou que os processos trabalhistas representam apenas 7% do total de ações no país. A magistrada também rejeitou o argumento de que o Justiça do Trabalho é anacrônica. “Desde sua origem, a CLT teve 85% dos seus artigos atualizados, e a Constituição Federal elevou direitos sociais à categoria de direitos fundamentais. Não somos contra a atualização em si da legislação trabalhista, ela já ocorre. Mas pugnamos pela manutenção de normas que permitam o exercício do trabalho com dignidade. É preciso compatibilizar dois princípios constitucionais: a livre iniciativa e o valor social do trabalho”, ponderou. A desembargadora manifestou sua preocupação com as atuais propostas de reforma trabalhista e afirmou que elas podem levar à precarização das relações de trabalho. Citou o exemplo da terceirização e disse que os casos que chegam ao Judiciário revelam que trabalhadores terceirizados recebem salários mais baixos e encontram-se em piores condições de trabalho. “Toda sociedade precisa tomar conhecimento e debater esses temas, para evitar que direitos sociais previstos na Constituição Federal sejam negados à população. Temos que pensar no futuro que queremos construir para nosso país”, declarou. Equilíbrio e garantia de direitos A presidente do TRT-RS apresentou ao público números que desmentem as ideias de que a Justiça do Trabalho gasta mais do que arrecada ou de que suas decisões são parciais. “Temos um orçamento de pouco mais de R$ 1 bilhão, mas os valores pagos por nossa instituição em 2016 superaram os R$ 3 bilhões. Promovemos a arrecadação de R$ 435,8 milhões em contribuições previdenciárias e fiscais. Mas é importante ressaltar, principalmente, que a Justiça não visa ao lucro, e sim à garantia do Estado Democrático de Direito”. A partir das estatísticas, Beatriz demonstrou que a 43% das ações foram resolvidas por acordo, 31% dos casos foram julgados parcialmente procedentes (quando apenas alguns pedidos do autor são atendidos) e em 25% dos processos o autor não obteve êxito algum. “Os números mostram o equilíbrio nas nossas decisões. Não somos parciais. Aplicamos a legislação e temos por princípio a proteção do trabalho decente e digno”, esclareceu. Ela também citou os programas nacionais da Justiça do Trabalho, que combatem o trabalho análogo a escravo, o trabalho infantil e o trabalho seguro. O procurador do Ministério Público do Trabalho (MPT), Bernardo Mata Schuch, reiterou que é necessário resistir às propostas que buscam restringir direitos sociais. “É uma ilusão acreditar que a reforma trabalhista vai gerar empregos. A Organização Internacional do Trabalho (OIT) promoveu um estudo em 63 países que reduziram a proteção do trabalho, e concluiu que nesses casos não houve geração de empregos nem redução da taxa de desemprego”, analisou. O presidente da Associação dos Magistrados da Justiça do Trabalho da 4ª Região (Amatra-IV), juiz Rodrigo Trindade de Souza, definiu os projetos de reforma trabalhista como uma ameaça aos instrumentos garantidores da dignidade da classe trabalhadora. O magistrado também criticou declarações recentes que sugerem a extinção da Justiça do Trabalho. “O fim da Justiça do Trabalho é o início da barbárie, porque isso representaria a impossibilidade de permanência de um órgão isento e justo. A Justiça do Trabalho não é um custo para o país, mas uma referência de civilização para a comunidade”, declarou. A representante da OAB-RS, Maria Cristina Carrion Vidal de Oliveira, lembrou que a Justiça do Trabalho já sofreu muitos ataques ao longo de sua história, e concluiu que novamente se faz necessária uma resistência para a manutenção dos direitos sociais. “Todos sabemos que não se gera empregos precarizando direitos, e sim com políticas sérias. A precarização leva a um círculo vicioso que diminui salários, gera desemprego e afeta o consumo”, avaliou. Houve ainda vários pronunciamentos, como do representante da Anamatra, juiz Luiz Antonio Colussi, do representante do Núcleo Regional da Associação dos Juízes para a Democracia, juiz Átila da Rold Roesler, do representante da Femargs, juiz Márcio Lima do Amaral, do representante da Apejust, Leonel Antonio Pandolfo, do presidente da Assojaf, Eduardo de Oliveira Virtuoso, do presidente da Agetra, Dênis Rodrigues Einloft, da representante da Abrat, Luciane Toss, e da representante da Fenajufe, Mara Weber, dentre outros. Também se manifestaram os representantes da CTB, Nova Central e CSP-Conlutas.
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