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Com a presença de mais de 2 mil militantes, Frente Brasil Popular é lançada em BH Dezenas de organizações, com representações de 22 estados, organizam articulação em defesa de uma saída à esquerda para a crise 05/09/2015 A Frente Brasil Popular, articulação de movimentos populares e organizações políticas, foi lançada neste sábado (5), em Belo Horizonte, Minas Gerais. Reunidos na área externa da Assembleia Legislativa, mais de duas mil pessoas participaram da Conferência Nacional Popular. Segundo os organizadores, o objetivo da Frente é a defesa da democracia e a proposição de uma nova política econômica, voltada para os trabalhadores. O ato político e cultural do lançamento da Frente Brasil Popular teve a presença de representantes de movimentos sociais, centrais sindicais, movimentos de negritude, LGBT e de mulheres, ao lado de lideranças políticas, parlamentares e intelectuais, que criticaram tanto o golpismo como a atual política econômica do governo. 21 estados, mais o Distrito Federal, enviaram delegações. Proposta Pela manhã, a Frente foi apresentada por João Pedro Stedile, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e Carina Vitral, presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE). Carina afirmou que “uma saída que defenda a democracia e não retira direitos dos trabalhadores depende da unidade entre os movimentos sociais”. “A gente acha que essa Frente pode reaglutinar os movimentos sociais para pautar uma agenda popular para o Brasil. A gente quer discutir os rumos do ajuste fiscal, pois não concordamos com um ajuste que aprofunda a recessão e retira dinheiro de programas sociais. A gente quer um ajuste que taxe os ricos”, disse. Stedile relembrou que a criação significa uma novidade no cenário nacional, ao apontar uma agenda positiva, “já que, até esse momento, as mobilizações eram apenas de reação às ofensivas do capital”. Após dedicar a tarde a debates em grupo que envolveram todos os presentes – a partir de quatro eixos temáticos: defesa dos direitos dos trabalhadores; defesa da democracia e por outra política e econômica; soberania nacional e integração latino-americana, reformas estruturais e populares – a Conferência realizou um Ato Político representativo das organizações presentes. O diplomata e intelectual Samuel Pinheiro Guimarães falou sobre o retrocesso na pauta de hoje do Congresso, como o caso das terceirizações. “Temos que pressionar o governo para que ele se torne um governo popular. Temos que cobrar daqueles que sonegam os impostos”, defendeu. Já Raimundo Bonfim, da Coordenação dos Movimentos Populares (CMP), afirmou que a saída está na mobilização e organização popular: “Temos que chamar o povo brasileiro para encontrar solução para os seus problemas e para a falta de reformas estruturais em nosso país”, pontuou. Roberto Amaral, que rompeu com o PSB quando o partido decidiu apoiar eleitoralmente Aécio Neves (PSDB-MG), ressaltou que a iniciativa da Frente partiu da articulação popular: “a sociedade civil tomou consciência da gravidade do momento. A história está apontando um novo caminho: a unidade popular nascida da sociedade, nascida dos meios sociais, nascida do movimento sindical. Pela primeira vez, temos uma frente que não foi idealizada da cúpula, por partidos, mas pela sociedade”. Tarso Genro, ex-governador do Rio Grande do Sul, saudou o lançamento da Frente Popular como uma das grandes novidades da esquerda no país. “Temos que alertar a presidenta Dilma que vamos até o fim defendendo o seu mandato, mas é necessário que saiba que essa política econômica está nos levando para a recessão e o desemprego”, defendeu. Inúmeros deputados estaduais e federais e líderes de partidos como PT, PCdoB, PCO estiveram presentes. Dois senadores também se pronunciaram no encontro a favor de mudanças nos rumos do governo: Roberto Requião (PMDB-PR) e Lindberg Farias (PT-RJ). “Quem vai impedir o golpe neste país são os movimentos sociais e populares organizados. Temos que nos posicionar claramente contra a Agenda Brasil do Renan Calheiros e do ministro (Joaquim) Levy”, afirmou o senador Lindberg Farias. “Juntos estivemos ontem, quando garantimos 54 milhões de votos para a presidenta Dilma. Mas estamos aqui para dizer a ela que estamos organizando uma frente nacional, popular e democrática. Nacional e popular porque os rentistas não têm mais nada a ver com o povo brasileiro”, criticou o senador Roberto Requião. O paranaense pediu que Dilma modifique sua política econômica: “queremos a Dilma eleita, não a Dilma comanda pelos bancos e pelo Levy”. Próximos passos Foi lançado um manifesto da frente, que elenca os quatro eixos de atuação. Além disso, as organizações acertaram realizar um ato unificado no dia 3 de outubro, em todo o país. “Saímos daqui com uma data unificada para dizer para o povo brasileiro e para o mundo que nós, classe trabalhadora, vamos ocupar as ruas em defesa do nosso patrimônio nacional que é a Petrobras e da soberania nacional”, explicou Rosane Silva, secretária nacional da mulher trabalhadora da Central Única dos Trabalhadores (CUT). Jovens protestam no Banco Central Cerca de 200 militantes do Levante Popular da Juventude realizaram, na tarde de sábado (5) um ato político em frente à sede do Banco Central em Belo Horizonte. Com as palavras “Fora Levy, que os ricos paguem a conta de crise” os jovens tinham o objetivo de denunciar a atual política econômica, os cortes dos direitos dos trabalhadores e dos orçamentos de políticas sociais. Segundo Renan Santos, de Minas Gerais, “essa política penaliza os trabalhadores, com perda de direitos e perda de renda. E nenhuma penalização cai nas costas da elite que é, em última instância, a responsável pela crise”. Thiago Pará, da coordenação nacional do movimento, acrescenta que esse é o recado para a sociedade. “É preciso fazer muita luta para derrotar o ajuste fiscal e avançar nas reformas estruturais que a sociedade brasileira precisa”, diz. O que é, afinal, a Frente Brasil Popular? Representa, acima de tudo, uma tentativa da esquerda em responder, da forma mais unitária possível, à ofensiva conservadora em curso. Não se define, porém, como aliança de apoio ao governo da presidente Dilma Rousseff, ainda que um de seus compromissos centrais seja a defesa da legalidade democrática e do mandato constitucional sacramentado pelas urnas. O outro pé programático da FBP, associado à salvaguarda da democracia, é o combate à política econômica adotada pelo governo depois da reeleição, centralizada pelo chamado ajuste fiscal. A bandeira da democracia, assim, é essencial para resistir às tentativas de desestabilização e derrubada da presidente, impulsionadas por forças que desejam recuperar a direção do Estado para o bloco oligárquico-rentista. O golpismo não resume, contudo, os perigos que ameaçam o processo de mudanças iniciado em 2003. Também o transformismo do governo, submetido a programa e composição ministerial derivados de concessões profundas ao conservadorismo, coloca em alto risco as conquistas pós-Lula e o futuro de uma alternativa sob a batuta da classe trabalhadora. A FBP, ao se propor a soldar coalizão pela democracia com mudança da política econômica, busca igualmente alterar a função caudatária que foi reservada aos movimentos sociais e mesmo aos partidos de esquerda em boa parte do período posterior à vitória de 2002. A paulatina perda do papel dirigente exercido pelo PT na coligação governista, por outro lado, tornou mais clara a necessidade do campo progressista disputar publicamente, de fora para dentro das instituições, os rumos da administração federal. Sem propósitos eleitorais, a Frente se apresenta como instrumento de mobilização popular e programática, aberta a todas as correntes democráticas e de esquerda. Ainda que seus objetivos fundamentais sejam imediatos, ajudar a derrotar as forças reacionárias e libertar o governo das amarras conservadoras nas quais se emaranhou desde as eleições, a Frente Brasil Popular também expressa esforço de renovação militante. Sua fundação carrega o desafio de desbravar, das ruas às instituições, um novo protagonismo para o mundo do trabalho e da cultura, para mulheres e jovens, para a afirmação da diversidade sexual e a luta contra o racismo. Ao menos são essas as intenções declaradas e publicadas dos milhares de ativistas que foram a Belo Horizonte com a esperança de fabricar saídas autônomas para a crise.
Fonte: Jornal Brasil de Fato Veja também |