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Entrevista com o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas "Golpe é primeiro passo para retirar direitos trabalhistas" 14/12/2015 Durante ato público no último dia 8, no Rio de Janeiro, o presidente nacional da CUT, Vagner Freitas, já alertava ao trabalhador: é fundamental avaliar quem deseja o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff. O dirigente lembra que os interessados no impeachment são os mesmos que criticam a política de valorização do salário mínimo, defendem a terceirização sem limites e repudiam as políticas de igualdade de gênero e raça. Em entrevista ao Portal da CUT, Vagner defende que o golpe é apenas o primeiro passo de uma agenda conservadora de retrocessos que, após o impeachment da Dilma, trará para o alvo os trabalhadores e os movimentos sindical e sociais. Por isso, nas manifestações convocadas para o dia 16 de dezembro em São Paulo e Brasília, é fundamental que a classe trabalhadora vá às ruas defender seus direitos. A conjuntura que enfrentamos hoje é a maior ameaça real à democracia desde o golpe civil-militar? Vagner Freitas – Eu acredito que é, definitivamente, um ameaça à democracia orquestrada por aqueles que perderam as últimas eleições e querem ganhar no tapetão. O impeachment é péssimo para a democracia e, principalmente, para o trabalho. Os mesmos que querem dar o golpe são os que propõem a terceirização sem limites, que querem acabar com a política de valorização do salário mínimo, com a carteira assinada, com as férias, com a licença-maternidade. São os mesmos que querem acabar com a Previdência, estabelecer que os homens têm de se aposentar com 75, 80 anos e mulheres com 70, 75 anos. É isso que significa para o trabalhador derrubar o governo Dilma. No dia seguinte, essa agenda dos conservadores será emplacada, sairá vitoriosa. Ou alguém acha que o Temer (Michel Temer, vice-presidente da República) se preocupa conosco? Basta dar uma lida na plataforma para o Brasil que o PMDB acabou de entregar e que só fala em cortar direitos. O documento que se chama Uma Ponte para o Futuro nós chamamos de uma ponte para o atraso, uma ponte para a retirada de direitos. Temos feito uma luta hercúlea para impedir que esse Congresso reacionário, comandado pelo Cunha (PMDB-RJ, presidente da Câmara dos Deputados), retire nossas conquistas. A terceirização sem limites só não passou porque fizemos uma resistência extraordinária. A democracia está em xeque, há um golpe que pode ser aplicado e fará com que o Brasil entre numa turbulência política muito grande, porque haverá resistência de quem não concorda com o golpismo, como nós não concordávamos com a ditadura e fizemos com que ela acabasse. Portanto, esse golpe não traz nada de bom para o trabalhador, a economia continuará paralisada por conta da crise política e isso significa inflação e desemprego. Quais aliados a CUT vai procurar para construir as mobilizações contra o golpe? O que os sindicatos têm de fazer para falar com suas bases sobre o golpe? Porque se isso acontecer, se não tiver uma transformação, não tenho dúvida de que daqui a três, quatro, seis meses os golpistas não vão falar mais do impeachment, mas da renúncia. Dizer que precisa renunciar porque o Brasil vive processo insolúvel. E se tiver inflação de 12%, 13% e desemprego na mesma faixa, fica muito fragilizada mesmo. Até os trabalhadores, que estarão passando por ainda mais dificuldades, não ficarão à vontade para defendê-la. A presidenta tem a chance de unir o Brasil em torno da democracia e, na sequência, governar com aqueles que vão manter seu mandato. Fazendo alterações no governo, tendo política econômica mais popular e voltada ao desenvolvimento do mercado interno. Que saia da questão do corte e ajuste, simplesmente, e aponte para a sociedade soluções que retomem o processo de crescimento, com propostas como as que própria CUT fez no seu 12º Congresso neste ano. E outros economistas renomados têm construído também, como Marcio Pochmann e Belluzzo (Luiz Gonzaga Belluzzo), diferente dessa do Levy (Joaquim Levy, ministro da Fazenda). Essa não é a única que existe para o Brasil. Ela precisa implementar outras ideias e fazer um governo que consiga entregar um país melhor do que quando assumiu. A CUT apresentou o Compromisso pelo Desenvolvimento, discutido também com os empresários. Você acredita que eles também têm essa visão de que o golpe é sinônimo de caos social? Por que o trabalhador deve acreditar que é possível vencer o golpismo? A Dilma tem que resgatar a identificação com o povo, que está perdendo através das políticas que pratica. Não é em um governo democrático e popular que tem de fazer reforma da Previdência, discutir pensionista, discutir salário-desemprego. Pelo contrário, temos que aumentar direitos para que se sintam respaldos e respeitados por ela e para que país volte a crescer. Todo país que tem política de ajustes fiscais, de terra arrasada têm exclusão. Investir em direitos dos trabalhadores e direitos sociais é trazer o desenvolvimento.
Fonte: Portal CUT Veja também |