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Em audiência pública, CUT critica projeto de lei da terceirização Presidente da Central, Vagner Freitas, reafirma que o PL é um ataque ao trabalho decente e deve ser alterado 23/11/2012 Audiência aconteceu quinta 22, na Câmara dos Deputados Em audiência pública quinta-feira (22) sobre a terceirização, na Câmara dos Deputados, a Central Única dos Trabalhadores reafirmou ser contrária ao Projeto de Lei 4.330/04, de autoria do deputado federal Sandro Mabel (PMDB-GO), com substitutivo de Roberto Santiago (PSD-SP). O debate foi convocado pelo deputado Ricardo Berzoini (PT-SP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), última instância pela qual o PL passará antes de ir à votação no plenário. Para remediar, em seu substitutivo, Santiago inseriu a obrigação de a terceirizada ser uma “empresa especializada”, voltada à uma única atividade, mas manteve o ataque aos conceitos de atividades fim, permitindo que um mesmo empresário comande diversas prestadoras de serviço. Outro ponto mantido no projeto e com o qual a CUT não concorda é a responsabilidade subsidiária. De acordo com o termo, a empresa contratante está livre de qualquer responsabilidade ou fiscalização sobre as condições do trabalhador terceirizado, caso a contratada frequentemente apresente determinadas informações trabalhistas. O grupo de trabalho (GT) da Central criado para discutir o tema exige que a contratante seja responsável por qualquer ataque aos direitos de seus empregados. Recado ao mundo “Qual o recado que o Brasil vai dar ao mundo? O de que somos um país em desenvolvimento, que respeita o direito do trabalhador, a organização sindical, o trabalho decente, tão importantes para o ambiente concorrencial, ou de retrocesso?”, questionou Vagner Freitas, durante sua intervenção. Para o dirigente, a regulamentação da terceirização no país deve ter como princípio a igualdade de direitos entre contratados diretos e terceirizados. Ele comentou ainda que a terceirização não acompanha a ideia de melhorar o serviço prestado, mas apenas de diminuir o custo com a mão de obra, trazendo junto a precarização. “Além de prejudicar o trabalhador e a qualidade do serviço, a terceirização onera o Estado, devido à alta rotatividade, com gastos de seguro-desemprego, do SUS (Sistema Único de Saúde) – por conta dos acidentes de trabalho – e alimenta a indústria da judicialização”, avaliou o presidente. Segundo Freitas, por trás da proposta há a intenção de fragilizar as organizações sindicais. “Sandro Mabel foi infeliz ao propor o tema. Ele quer simplesmente acabar com as categorias organizadas e criar um mercado informal legal, como na época do Fernando Henrique Cardoso. Por isso, o PL 4.330 não tem concordância da CUT, da CTB, da Nova Central e de muitos setores da Força Sindical e da UGT. O PL inverte a lógica da normalidade democrática e essa Casa tem o dever de não permitir que isso aconteça porque não contribui com o desenvolvimento com Justiça social, do trabalho decente e da distribuição de renda que queremos para o Brasil”, destacou o sindicalista. Também presente na audiência, o secretário de Organização da Confederação dos Trabalhadores do Ramo Financeiro (Contraf), Miguel Pereira, disse que se o projeto de lei passar, teremos o caminho aberto para a concentração de renda: “As empresas estarão confortáveis, dentro da lei, para substituir os contrados diretos por terceirizados e diminuir salários. Não adianta termos uma grande economia se for injusta e com concentração de renda.” Maior jornada, mais mortes Segundo uma pesquisa da CUT e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), divulgada em setembro de2011, a terceirização é responsável por gerar menos empregos, porque os terceirizados trabalham, em média, três horas a mais que os demais trabalhadores, sem contar hora extra. Assim, realizam tarefas que deveriam exigir novas contratações. Empresários acham tudo normal A gerente de consultoria da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Sylvia Teixeira de Souza, e o presidente do Centro Nacional de Modernização Empresarial, Lívio Gioisa, apontam que a terceirização é mera questão de gestão. “A terceirização faz parte da organização produtiva das empresas, não tem mais volta”, disse Sylvia. Já Giosa defende o PL como uma forma de aumentar a competitividade no Brasil: “O projeto de lei dá segurança jurídica e alimenta os desejos do lado empresarial e dos trabalhadores e dá ao Brasil uma oportunidade de deixar de discutir e se compromissar com qualidade e competitividade”. Justiça discorda Para o procurador do Trabalho da 10ª Região, Fábio Cardoso, a locação de mão de obra deve ser combatida e penalizada. “Esse projeto de lei não vai ser o marco da regulamentação da terceriziação no Brasil”, defendeu. Vice-presidente da Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho (Anamatra), Paulo Schimidt, evocou a Carta Magna e também acredita que o texto apenas aprofunda a precarização: “O debate deve ter como parâmetro a Constituição, que determina a proteção à dignidade e à função social do trabalho. Como juiz, vivencio a precarização na forma de terceirização e acredito que realmente precisa de uma regulamentação, de limites, e a PL, como está, não dá conta disso”. Com Artur Maia, sem esperança Relator do projeto no CCJ, o deputado Artur Maia (PMDB) ressaltou que está trabalhando para eliminar conceitos jurídicos que sejam vagos para evitar dubiedade na interpretação e insegurança jurídica. Mas deu um banho de água fria em quem acreditava num texto favorável ao trabalho decente. Para ele, o projeto de lei não dá conta de regulamentar a terceirização e que não deve haver limite.
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