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Governo quer fechar única fábrica de chips, apesar da falta do produto no mundo
A decisão do governo de Jair Bolsonaro (PL) em fechar o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec),Tira do país a possibilidade de entrar no seleto grupo de países autossuficientes nessa tecnologia.
14/07/2022


Foto: Divulgação / Ceitec


      A decisão do governo de Jair Bolsonaro (PL) em fechar o Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec), única fábrica de chips semicondutores no país, instalada em Porto Alegre (RS), é, no mínimo, equivocada. Tira do país a possibilidade de entrar no seleto grupo de países autossuficientes nessa tecnologia. E isso em um momento em que a produção global desses componentes não é suficiente para atender a necessidade de todo o mundo.

     Exemplos de problemas na produção por causa da falta de chips semicondutores não faltam: no Brasil, só a montadora Volks, no ABC Paulista, já deu férias coletivas e parou a sua produção de automóveis por falta de semicondutores cinco vezes.

     A recomendação pela extinção foi formalizada pelo conselho do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), em 2020, sob a alegação de que, apesar de aportes de R$ 800 milhões em duas décadas, a estatal ainda depende de injeções anuais de pelo menos R$ 50 milhões para cobrir a diferença entre receitas e despesas.

     Mas segundo Adão Villaverde, ex-secretário de Ciência & Tecnologia do Rio Grande do Sul, que participou da fundação da fábrica brasileira, em 2000, o Ceitec, já é lucrativo, não dependendo unicamente do dinheiro da União. O Centro de tecnologia, dentro das estatais, que ainda dependem de dinheiro público, era responsável pelo gasto de apenas 0,4% do total de que é investido em estatais não lucrativas.

     No ano passado a empresa foi superavitária e a previsão para 2028 era de um lucro de R$ 300 milhões, que o governo federal simplesmente está jogando fora, pois nem colocou à fábrica à venda e sim, demitiu mais de 100, dos 170 profissionais do Ceitec, que agora estão trabalhando para empresas estrangeiras, e fechou boa parte do centro de pesquisa.

     Diante dessa posição, os pesquisadores tentam sensibilizar o governo e o Congresso Nacional sobre os malefícios do fechamento. Nesta quinta-feira, a partir das 14h30, na Comissão de Ciência e Tecnológica, no Auditório 13, anexo 2, da Câmara Federal, Adão Villaverde, fará uma apresentação sobre a liquidação da empresa, em uma Audiência Pública. Atualmente ele é professor da Politécnica da PUC-RS.

 

TCU é contra o fechamento

     O Tribunal de Contas da União (TCU) tem se posicionado contrário ao fechamento, diante dos prejuízos ao país. Porém, a decisão de fechar ou não, depende de um decreto do governo federal. A esperança, diz, Villaverde é que o atual governo não tenha tempo de fechar totalmente a fábrica até que um governo mais sensível à necessidade de desenvolvimento do país a mantenha funcionando.

     "A liquidação nesse momento histórico vai tirar o país do seleto grupo de produtores de semicondutores e aprofundar a ‘reprimarização’ da economia, cuja a lógica é exportar commodities, como produtos agrícolas, e jogar o país numa estratégia submissa de importar o que tem valor", destaca Villaverde.

     Segundo o professor, no Brasil existem menos de 20 empresas neste ramo e 70% não aperfeiçoaram a cadeia de produção e importam insumos. O Ceitec é autossustentável. Ela começou de fato a funcionar em 2010 e já tem um enorme resultado no mercado, pois é a única que pesquisa, desenvolve, projeta, faz o protótipo, fabrica e comercializa, uma solução completa.

“O Ceitec já produziu 162 milhões de produtos na área de eletroeletrônico, desde o início do seu funcionamento. São componentes para cartões de crédito, pedágios, automóveis que grandes empresas produtoras de chips de computadores não produzem, o que amplia o mercado do Ceitec, mas que o governo, ignora”, afirma Villaverde.

 

Na contramão do mundo

     O ex-secretário de Ciência & Tecnologia do Rio Grande do Sul argumenta que governos de países como Taiwan, Coréia do Sul, Cingapura, China, Estados Unidos e Inglaterra, investiram fortemente nesses tipos de empresas até que elas começassem a dar lucro, ao contrário do que vem fazendo o atual governo brasileiro.

     “Esse é o grande debate, queremos uma fábrica que faça a ponte entre a academia e o mercado. O governo poderia mantê-la como uma espécie de instituto e centro de pesquisa, capaz de atrair empresas nacionais e players mundiais. Aliás, o Ceitec já tinha atraído a atenção e estava atentando a HT Micron Semicondutores, criada no Brasil através da joint venture com a sul-coreana Hana Micron”, conta Villaverde.

 

Foto: Divulgação / Ceitec

Fonte: Rosely Rocha | Editado por Marize Muniz - CUT Brasil

 
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