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Salário tem reajuste abaixo da inflação em 14,6% dos acordos no semestre Segundo o Dieese, no mesmo período de 2014, o equivalente a 5 de cada 200 acordos tinham ficado abaixo da inflação 28/08/2015 A piora do mercado de trabalho e a aceleração da inflação fizeram com que 14,6% das negociações salariais resultassem em ajustes abaixo da inflação no primeiro semestre de 2015. Ou seja, em 3 de cada 20 acordos os funcionários tiveram poder de compra reduzido. No mesmo período de 2014, o equivalente a 5 de cada 200 acordos tinham ficado abaixo da inflação, segundo pesquisa do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos). O ajuste real (acima da inflação) médio, de 0,51%, também foi o menor no período para a série. Os resultados das negociações salariais foram especialmente ruins para os trabalhadores da indústria.
Os levantamentos ocorrem desde antes de 2008, mas, segundo o Dieese, a comparação com períodos anteriores é imprecisa porque negociações diferentes eram levadas em conta. Se o período de comparação for ampliado, os resultados são os piores desde 2004. No primeiro semestre também subiu o número de casos em que os funcionários saíram das negociações com ajuste igual à inflação: 16,9% do total, um outro recorde da série a partir de 2008. No primeiro semestre de 2014, apenas 4,6% dos casos tinham ajustes acompanhando o índice. Com isso, a proporção de ajustes acima da inflação caiu de 92,7% do total no primeiro semestre de 2014 para 68,5% no mesmo período de 2015. MERCADO DE TRABALHO E INFLAÇÃO Para Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, a queda de renda tem feito mais trabalhadores procurarem o mercado de trabalho com o objetivo de comporem a renda da família, mas eles têm se deparado com um mercado de trabalho em enxugamento. O rendimento real (que já desconta a inflação) dos trabalhadores teve queda de 2,4% e o desemprego subiu para 7,5% em julho, segundo pesquisa feita em seis regiões metropolitanas pelo IBGE. "Essa parcela desempregada ou com risco de perder o emprego enfraquece o poder de barganha dos trabalhadores."
Segundo José Silvestre, coordenador de relações sindicais do Dieese, a inflação em alta é outro fator que tem pesado nas negociações. Para acompanhar a alta geral dos preços, os salários precisariam, em janeiro, de um aumento de no mínimo 6,2%, de acordo com o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) relativo a um período de 12 meses, usado como base da pesquisa. Com a alta da inflação, no entanto, esse aumento teria que ser, em junho, de ao menos 8,8%. Quanto maior esse valor, maior a disputa necessária para atingi-lo. "Um dos principais componentes do custo é o salário, que tende a ter cortes na crise. Tem datas-base em agosto e setembro que vão ter um INPC de mais de 9%", diz Silvestre. Por esse motivo, ele espera resultados desfavoráveis nas negociações do segundo semestre, apesar de ajustes de categorias organizadas, como bancários e metalúrgicos, estarem previstos para ocorrer nesse período. Segundo o estudo, a disparada da inflação dificultou a negociação de reajustes com ganhos reais, o que pode ser constatado ao se comparar os resultados de janeiro (92% de aumentos acima da inflação) e maio (50%). SETORES Setor da economia que mais fechou vagas de janeiro a julho, a indústria também ofereceu os piores acordos de ajuste salarial no primeiro semestre. Se no mesmo período de 2014 o desfecho de 90,6% das negociações era aumento acima da inflação, em 2015 essa proporção caiu para 60,9%. Em nenhum ano da série a partir de 2008 esse resultado havia ficado abaixo de 80%. Dessa forma, 20,3% dos ajustes ficaram abaixo da inflação, e 18,8% acompanharam o índice. No mesmo período de 2014, a proporção em ambos os casos era de 4,7%. Para Rosa, da SulAmérica, os salários da categoria estavam artificialmente inflados pelo aquecimento do mercado de trabalho influenciado pelo setor de serviços, gerando ajustes acima da inflação mesmo em nichos em crise, como o automotivo. Em sua visão, a tendência agora é de um ajuste de todos os setores, com ênfase para a indústria. Em 20,3% dos acordos, os trabalhadores saíram com perdas reais (ajustes abaixo da inflação), o pior resultado desde 2008 e uma forte alta quando se compara com as perdas ocorridas em 4,7% das negociações do primeiro semestre de 2014. A queda do poder de compra não ocorreu, no entanto, de forma homogênea no setor. Apenas 47,1% dos acordos na área de vestuário ocorreram acima da inflação, enquanto os metalúrgicos tiveram aumento real em 83,3% dos casos. O segundo pior desempenho foi do setor de serviços, que teve uma média de aumento real de 0,78%. Em 73,6% dos casos, os acordos ficaram acima do INPC, o menor resultado desde 2013 (76%). Em 2014, essa proporção era de 94,6%. Assim, 11,6% dos ajustes ficaram abaixo do índice, ante apenas 0,8% em 2014. 14,7% dos acordos acompanharam a inflação ante 4,7% em 2014. Com ajustes reais médios de 0,63%, o setor de comércio conseguiu garantir acordos acima da inflação em 75,6% dos casos. Trata-se de uma forte queda ante o índice de 93,3% observado no primeiro semestre de 2014. Até 2013, o setor vinha obtendo aumentos em quase 100% dos casos. Em 2015, 6,7% dos acordos ficaram abaixo da inflação, e 17,8% se equipararam ao INPC.
Fonte: Folha Online - 27/08/2015 Veja também |