Notícias
Há 30 anos, trabalhadores/as desafiavam a repressão militar na primeira greve geral em plena ditadura Movimento no dia 21 de julho de 1983 se espalhou pelo Brasil e colaborou para a fundação da CUT 19/07/2013 Enquanto a classe trabalhadora se organizava para fundar a maior central sindical do Brasil, greves e mobilizações contra a política econômica ditada pelo regime militar pipocavam por todo o País. Todo este processo resultou em milhões de trabalhadores sem emprego ou subempregados, achatamento do poder aquisitivo dos salários, altas taxas de juros alimentando a especulação financeira, salário mínimo equivalia a menos de um terço das necessidades básicas do trabalhador e sua família, paralisação e destruição da indústria brasileira e a mais completa desnacionalização da economia e das riquezas nacionais. Decretos afundam ainda mais o País - o governo militar, sob o comando do general João Baptista Figueiredo, direcionava a política econômica a partir das diretrizes delineadas pelo então ministro do Planejamento Delfim Netto, o czar da economia dos militares. Rejeitado pelo Congresso, foi substituído em junho pelo Decreto-Lei 2.024. Diante de mais uma rejeição, em julho do mesmo ano surgia o Decreto-Lei 2.045 que suspendeu a correção salarial por faixas de remuneração, restringindo os reajustes a 80% da variação do INPC semestral. O regime militar, juntamente com FMI e setores do grande empresariado, iniciou também uma campanha de depreciação das empresas estatais, apontando-as como ineficientes e responsáveis pelo aumento do déficit público. Tal campanha possuía apenas um objetivo: a desnacionalização das empresas públicas. Nesta toada, o governo instituiu o decreto 2.036, conhecido como Pacote das Estatais, que atingiu duramente os trabalhadores com a suspensão das promoções, limite de remuneração mensal para os servidores, a completa subordinação da política de remuneração ao CNPS (Conselho Nacional de Política Salarial) e o esvaziamento do papel dos sindicatos no setor com a perspectiva de demissões e rotatividade. Pouco antes da greve geral, os petroleiros haviam organizado uma paralisação das atividades no dia 6 de julho contra o entreguismo do governo ao FMI e pela soberania nacional e garantia de direitos. A resposta da repressão militar foi imediata: intervenção no Sindipetro de Campinas e Paulínia e no Sindicato dos Petroleiros da Bahia, com demissões de centenas de trabalhadores. Por prestar solidariedade ao movimento e aos companheiros grevistas, o Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema também foi vítima de mais uma intervenção. O movimento dos petroleiros teve papel relevante ao impulsionar a classe trabalhadora para uma greve geral que abrangesse todas as categorias. As lutas contra os decretos-leis foram levadas a cabo pela Comissão Nacional Pró-CUT. A greve geral do dia 21 de julho de 1983 foi o caminho encontrado pelo conjunto da classe trabalhadora em resposta a repressão e à política econômica aplicada pela ditadura militar. De acordo com avaliações de membros da Comissão Nacional Pró-CUT a partir de levantamentos realizados nos Estados, cerca de 138 entidades participaram do movimento grevista, o primeiro no regime militar, chamado de Dia Nacional de Greve com Manifestações. Contou com adesão direta de mais de dois milhões de trabalhadores/as do setor público e privado e outras 40 milhões de pessoas tiveram atividades afetadas, principalmente por paralisações nos meios de transporte. A prioridade para o desenvolvimento, destacavam os manifestantes, passava pelo fortalecimento do mercado interno, com redução das taxas de juros e moratória da dívida externa, pondo fim a especulação financeira e permitindo a aplicação dos recursos públicos em setores vitais para a maioria da população, extinguindo, assim, a verdadeira fonte de inflação e desemprego. No livro ‘Nasce a CUT’, Jair Meneguelli, que integrava a Comissão Nacional Pró-CUT e foi primeiro presidente da Central, recorda “que a greve geral contra a mais sórdida política de arrocho salarial praticada por um governo não apenas colocou o movimento sindical em um caminho sem volta, ao impor as condições políticas para que fundássemos a Central, mas também contribuiu para que as lideranças sindicais dessem um salto para o futuro, ao perceberem que as lutas isoladas de suas categorias não eram suficientes para mudar coisa alguma. Descobriram que era preciso superar as práticas corporativas e apostar na organização da classe trabalhadora.” Gilmar Carneiro, outro companheiro que integrou a Comissão Nacional Pró-CUT e na época ocupava a vice-presidência do Sindicato dos Bancários de São Paulo, relata que para limitar o poder de mobilização e atingir diretamente a organização dos trabalhadores, o governo federal interveio nos sindicatos dos metroviários e bancários de São Paulo. A intervenção nos bancários durou mais de 20 meses, até 1985. Todos os dirigentes foram cassados. A ditadura colocou como interventores representantes dos bancos, sem compromisso com as questões sociais, que transformaram o sindicato em uma entidade quase exclusivamente assistencialista, apenas homologatória das vontades dos patrões e do governo. “O governo avaliava que mantendo os sindicatos sob intervenção conseguiria enfraquecer a greve, mas pelo contrário, o que se viu foi à radicalização do movimento. E mesmo colocando o patrão pra tomar conta do sindicato nós mantivemos a Folha Bancária durante o período de intervenção”, lembra Gilmar Carneiro, observando que a greve serviu como aglutinadora e colaborou para a construção do Congresso Nacional da Classe Trabalhadora, em agosto de 1983, com a participação de mais de cinco mil pessoas, homens e mulheres, do campo e da cidade, quando foi fundada a Central Única dos Trabalhadores. “No dia 28 de agosto os cinco sindicatos ainda estavam sob intervenção. À medida que o governo tomava essas atitudes, surgiu a necessidade da autoafirmação, de fazer a CUT independente e autônoma perante ao Estado e ao governo”, destaca Gilmar.
Fonte: William Pedreira com colaboração do Cedoc/CUT
Veja também |