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Pesquisa: Jango tinha 70% de aprovação às vésperas do golpe
Levantamento do Ibope contradiz suposta fragilidade do governo de João Goulart, um dos argumentos usados pelos militares para tomar o poder, há 50 anos
28/03/2014


Pesquisas feitas pelo Ibope às vésperas do golpe de 31 de março de 1964 mostram que o então presidente da República, João Goulart, deposto pelos militares, tinha amplo apoio popular. Doadas à Universidade de Campinhas (Unicamp) em 2003, as sondagens não foram reveladas à época.

Pelos números levantados, Jango, como Goulart também era conhecido, ganharia as eleições do ano seguinte se elas tivessem ocorrido. Entrevistas realizadas na cidade de São Paulo na semana anterior ao golpe mostravam que quase 70% da população aprovavam as medidas do governo.

Em alusão aos 50 anos do golpe de 1964, a Câmara dos Deputados promove sessão solene nesta terça-feira (1º) para homenagear a resistência à ditadura militar. No Senado, a solenidade que lembra o cinquentenário do golpe vai ser nesta segunda-feira (31), a partir de 11h. O pedido para a sessão especial foi feito pelo senador João Capiberibe (PSB-AP), ele próprio vítima dos anos de chumbo. Segundo o senador, é preciso que os fatos acontecidos há meio século sejam lembrados e repudiados, “para que os jovens nascidos na democracia conheçam a história do seu país e contribuam para o aperfeiçoamento dela”, destaca.

Pesquisa contradiz militares

O professor Luiz Antônio Dias, da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), afirma que uma das pesquisas do Ibope, desconhecida durante 40 anos, havia sido encomendada pela Federação do Comércio de São Paulo (Fecomércio), que fazia oposição a Jango. O especialista destaca que o levantamento derruba uma das justificativas dos militares para tomarem o poder em 1964: a de que o governo de João Goulart era frágil e impopular.

Era exatamente o contrário. O governo tinha respaldo popular e havia a esperanço de o presidente Jango desencadear as reformas de base, até hoje esperadas pela população pobre do País.
"Muitos historiadores, até dez anos atrás, ainda tinham essa ideia de que Goulart caiu porque era frágil, não tinha o apoio dos partidos e, sobretudo, da população", comenta Dias.

Agentes externos

Não se pode esquecer também a participação direta do governo dos Estados Unidos, por meio de vultosos financiamentos e outras ferramentas da política e da guerra psicológica, que contribuiu e ajudou a urdir o golpe.

Documentos obtidos nas bibliotecas americanas dedicadas aos dois mandatários da Casa Branca nos anos 60 -  John Kennedy (1961-1963) e Lyndon Johnson (1963-1969) -, os registros, feitos desde 1961, mostram indícios de que a participação dos Estados Unidos na movimentação militar foi maior do que se supunha. Até a possível ação de aviões militares norte-americanos para apoiar conspiradores brasileiros na luta que os EUA esperavam demorada e sangrenta – e que não aconteceu – foi preparada.

Radicalização ideológica

Historiador da Universidade de Brasília (UnB), Antonio Barbosa ressalta o clima de polarização ideológica que o País vivia. Para os opositores, Jango representava uma "ameaça comunista".
"A partir de 1963, cria-se um quadro de crescente radicalização: a Igreja Católica, o empresariado, as Forças Armadas e a imprensa vão assumir uma posição contrária às reformas defendidas por Jango, identificadas como a ‘comunização’, a ‘esquerdização’, a ‘bolchevização’ do Brasil", explica.

Voz das masmorras

Mas para o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), o perigo comunista era real: "Estávamos à beira de ser implantada aqui a ditadura do proletariado. Os empresários e a igreja queriam que os militares assumissem o poder. Ou seja, toda sociedade queria afastar o fantasma da ditadura do proletariado que estava presente em nosso país."

Já o deputado Chico Alencar (PSol-RJ) acredita que a população foi manipulada: "Criou-se a ideia de que o Brasil estava em um caos total, que Jango queria implantar o comunismo. Era a época da ‘guerra fria’, da forte polarização entre União Soviética e Estados Unidos, e acabaram fazendo uma manipulação grosseira para influenciar a opinião pública."

Imprensa

O professor Luiz Antônio Dias vai além e diz que a grande imprensa participou da articulação do golpe militar. Segundo ele, esse movimento inclui todos os maiores jornais da época, como: Folha de S.Paulo, O Estado de S. Paulo, O Globo e Jornal do Brasil.

"Eram recorrentes matérias ou editorais vinculando o governo aos comunistas. Não me lembro de ter visto nenhuma afirmação direta de que Goulart fosse comunista, mas era muito comum, por exemplo, atribuir ao Ministério da Educação, um programa comunista, como a criação de cartilhas para doutrinar nossos jovens", informa. "Outra situação relativamente comum, tanto na Folha quanto no Estadão, era a preocupação com a possibilidade de Goulart dar um golpe para se manter no poder", completa.

Dias lembra que o jornal A Última Hora, que apoiava o governo Jango, sofreu boicote de anunciantes e foi à falência, até ser comprado pela Folha de S.Paulo.

 


Fonte: Agência Diap

 
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