Presidente do sindicato testemunha assassinato cometido por soldados do governo terrorista de Israel
Antes, Lirio Segalla foi detido, interrogado e investigado por agentes israelenses. CUT exige retratação do governo de Israel
19/12/2011
Representando a CUT nacional num congresso da Federação de Sindicatos Palestinos, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre, Lirio Segalla, viveu momentos de muita apreensão e terror no aeroporto Ben Gurion, de Tel Aviv, cidade considerada capital financeira de Israel, distante 60 Km de Jerusalém, e em Nabi Saleh, cidade próxima à Ramallah, centro da Palestina.
Ao desembarcar em Tel Aviv no dia 8 de dezembro, Segalla ficou detido durante três horas para ser humilhantemente interrogado e investigado por policiais israelenses. Levado a uma sala separada, permaneceu incomunicável e foi submetido a um extenso interrogatório. Posteriormente, sofreu pressão psicológica e ameaças, e teve suas malas, documentos e objetos vasculhados, incluindo o conteúdo de seu telefone celular, seu laptop, seus e-mails e redes sociais, uma clara e absurda violação de privacidade.
Dois dias depois, testemunhou o covarde assassinato cometido por soldados fortemente armados contra um jovem e desarmado ativista palestino que protestava contra a presença israelense nos territórios ocupados. "O assassinato de Mustafá Tamimi, de apenas 27 anos, foi à queima-roupa. Dispararam um tipo de bomba de gás revestida de aço que, lançada de perto, se fragmenta como uma granada e destrói a cabeça das pessoas. Foi isso o que aconteceu com o jovem, assassinado na minha frente às 10 horas da manhã do dia 10 de dezembro, em Nabi Saleh”.
As atrocidades israelenses
Ao retornar na última quarta-feira de Ramallah, na Cisjordânia, onde permaneceu por seis dias, Lirio revelou que foi impedido de circular e barrado ao tentar entrar na Faixa de Gaza. Além da humilhação enfrentada no aeroporto Ben Gurion e de presenciar o assassinato do jovem Mustafá, Lírio denunciou "a grave crise humanitária a que vem sendo submetido o povo palestino pela ocupação israelense", que toma suas terras, destrói suas casas, ergue assentamentos ilegais, usurpa, humilha o povo.
"É uma situação muito mais absurda e criminosa do que pensamos. Uma política de terrorismo de Estado que atinge indistintamente a todos os palestinos", disse. Segundo ele, as tropas israelenses atiram para matar em gente desarmada e multiplicam os pontos de controle israelenses por todo o território palestino. “O cerco é total. Há mais de 750 quilômetros de muros do apartheid, com seis metros de altura, arames farpados e todo tipo de sensores e alarmes. A ocupação ilegal vai encurralando os palestinos". Segalla conta que, nestes locais, os israelenses são doutrinados a hostilizar os árabes. "Protegidos pelas tropas, os israelenses jogam lixo e ácido nos palestinos, cospem, chamam de porco, insultam de tudo o que é jeito. As pessoas estão sitiadas, desempregadas, humilhadas. Infelizmente, esta realidade não aparece nos meios de comunicação do Brasil”, acrescentou.
Lirio revela que esta situação será mais uma vez denunciada aqui no Brasil por ocasião do Fórum Social Mundial. "Parte deste encontro mundial será realizado aqui em Porto Alegre, entre os dias 29 de novembro e 1° de dezembro do próximo ano, momento em que vamos reforçar a luta por uma Palestina livre", anunciou.
Fotos, vídeos e mais informações sobre o caso você pode acessar nos seguintes endereços http://pt.indymedia.org/conteudo/newswire/6315 e http://www.redebrasilatual.com.br/temas/cidadania/2011/12/sindicalista-da-cut-acusa-imigracao-israelense-de-abuso-de-autoridade
O Congresso
Lirio Segalla fez parte da delegação internacional convidada para acompanhar o Congresso da Federação dos Sindicatos Palestinos, representando a CUT nacional. Segundo ele, além de realizar uma eleição da nova direção da federação, o congresso daquela instituição sindical discutiu e decidiu reivindicar uma série de avanços para a classe trabalhadora palestina, entre elas a instituição de uma cota de 20% nas direções de sindicatos para as mulheres, um tribunal especial para julgar ações trabalhistas, um salário mínimo para o país, uma comissão para investigar as condições de trabalho oferecidas à classe trabalhadora e a permanente luta por uma Palestina livre.
CUT protesta e pede retratação
Após o dramático relato de Lirio Segalla, o secretário de Relações Internacionais da CUT, João Antonio Felício, enviou carta na sexta-feira, 16 de dezembro, ao Embaixador de Israel no Brasil, Rafael Eldad, e ao ministro de Relações Exteriores do Brasil, Antonio Patriota, defendendo a investigação do assassinato de Mustafa Tamimi e cobrando a apuração do crime e a punição exemplar dos responsáveis no âmbito da lei internacional, em especial a IV convenção de Genebra.
Em relação à afronta aos direitos humanos e individuais do dirigente sindical cutista, a central exige uma retratação formal das autoridades israelenses, bem como solicita às autoridades brasileiras que acompanhem o caso, a fim de que tão vergonhosos fatos não mais se repitam.
Veja abaixo a reprodução da carta enviada à embaixada de Israel no Brasil, com cópia para o Ministério de Relações Exteriores:
"Senhor Embaixador,
A Central Única dos Trabalhadores do Brasil (CUT), em nome de seus mais de sete milhões de associados, tem construído uma trajetória de 26 anos de muita luta em defesa dos interesses da classe trabalhadora em especial a defesa dos direitos humanos e do fortalecimento da democracia.
Queremos manifestar nosso total inconformismo com os procedimentos adotados pelas autoridades responsáveis pelo controle de passageiros no aeroporto de Tela Viv, ao abordar, interrogar e investigar o cidadão brasileiro Lírio Segalla – Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Porto Alegre, que estava em missão oficial de representação da CUT no Congresso Sindical da Federação de Sindicatos Palestinos – PGFTU.
Nosso representante foi levado a uma sala em separado no Aeroporto, submetido a interrogatório, teve seus objetos pessoais vistoriados e o mais grave a invasão de sua privacidade, quando os policiais examinaram o conteúdo de seu lap top, celular e conteúdo de emails e redes sociais, caracterizando uma clara violação de privacidade e constrangimento. Este procedimento durou mais de três horas e acarretou no prejuízo da agenda de transportes internos gerando mais transtornos.
Diante destas informações, solicitamos uma manifestação das autoridades de Israel quanto a este fato, que condenamos e entendemos como uma afronta aos direitos humanos e individuais, bem como apresentam obstáculos as relações entre Israel e Brasil. Pois sabemos que os cidadãos israelenses, ao chegarem em nosso país, não são submetidos a esse tipo de violações.
Atenciosamente.
João Antonio Felício
Secretário de Relações Internacionais"