CUT define estratégia de luta
17/11/2010
As ações que forem adotadas durante o processo de transição vão definir o direcionamento do governo Dilma Rousseff. Perante essa convicção, a Direção Executiva da Central Única dos Trabalhadores promove nesta quarta (17) a primeira reunião após a eleição da primeira presidente do Brasil e, no período da manhã para discutir estratégias para defender a implementação da pauta dos movimentos sociais.
Após avaliar o cenário em que se deu a disputa eleitoral, com a tentativa de dividir preconceituosamente o país entre Nordeste/Norte e Sul/Sudeste, com a questão religiosa entrando na pauta e com a tentativa de desconstruir a luta da sociedade brasileira pela redemocratização durante a ditadura militar, o presidente da CUT, Artur Henrique, ressaltou que apesar da continuidade representar uma vitória, o projeto de desenvolvimento continua em disputa.
“Se por um lado, a presidente Dilma terá uma bancada de sustentação maior na Câmara e no Senado que o governo Lula, por outro há um leque enorme de interesses em jogo. As propostas ligadas à classe trabalhadora nem sempre vão bater com o desejo dos que estão lá. Temos que pressionar para garantir nossa interlocução com o governo. Os os grandes banqueiros, os grandes, médios e pequenos empresários têm espaços, ministérios com os quais falar. E nós, vamos falar com quem?”, provocou. “Mais que nomes, queremos discutir as políticas”, completou.
Plataforma de luta e corte no investimento
Para o dirigente, o primeiro passo da central deve ser definir as propostas prioritárias, entre aquelas presentes na Plataforma da CUT para as Eleições 2010, que nortearão a luta da central e serão cobradas dos novos nomes que assumirão as cadeiras no Executivo e no Legislativo. Também permanecem como itens fundamentais na agenda cutista o debate sobre o salário mínimo e dos aposentados, o fim do fator previdenciário, a implementação da agenda do trabalho decente, a ratificação da Convenção 158 – contra demissão imotivada – e as reformas política, tributária, agrária e sindical, com destaque para o fim do imposto sindical.
Artur ressaltou ainda a necessidade de mais uma vez, como aconteceu em 2002 e 2006, combater a agenda negativa que volta à tona por meio da “velha” mídia. “O noticiário já começa a dar ênfase à redução de gastos das empresas privadas por meio da desoneração de impostos, mas empresários não querem reduzir jornada, não querem a Convenção 158. Da mesma forma, os articulistas defendem o corte do investimento em programas sociais, a manutenção do superávit primário, como se vivêssemos uma situação semelhante a de países europeus. A presidente Dilma colocou como principal elemento acabar com miséria, mas isso não acontecerá se não houver distribuição de renda e inclusão social através de políticas públicas”, defendeu.
Lucros a favor do Brasil – Por fim, o presidente cutista indicou a necessidade de voltar a discutir o lucro das empresas e da produtividade. “Os R$ 20 bilhões de lucros dos bancos vão para onde? Para melhorar ferrovias, hidrovias ou apenas para enriquecer o banqueiro? Temos que estabelecer uma política de investimento privado a longo prazo.”
Distribuir renda e qualificar o crescimento
Economista do Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos), Patrícia Pelatieri afirmou que os números mostram não haver qualquer indício de desaceleração ou de que o Brasil deixará de crescer a curto prazo.
Porém, alertou que a manutenção do cenário externo de crise, com câmbio valorizado, exige do País medidas para ampliar o crescimento para que se transforme em desenvolvimento permanente.
Para isso, defende Patrícia, o movimento sindical deve discutir queda da taxa de juros, estrutura tributária, aumento da capacidade produtiva, investimento em educação e qualificação, seguridade social e, assim como alertou Artur, os lucros das empresas privadas. “Se queremos um País desenvolvido, com distribuição de renda, devemos voltar a discutir os lucros recordes. Qual o patamar que deve ser aplicado? Os empresários tem o direito de colocar quanto quiserem, passar para o preço e aumentar a inflação? Para ser mais desenvolvido, o Brasil precisa também ser mais justo”, determina.