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Executiva da CUT: Fortalecimento do mercado interno, com distribuição de renda, é essencial 12/07/2010 Artur, Quintino e Clemente (Dieese)A amplitude, profundidade e durabilidade da crise internacional do capitalismo, suas conseqüências práticas para a economia brasileira, continental e mundial, seus reflexos no salário, emprego e direitos, bem como as diferentes alternativas propostas pelos movimentos sociais e governos progressistas da região para o fortalecimento do mercado interno, com distribuição de renda e valorização do trabalho. Estes foram os tópicos principais do debate sobre conjuntura na reunião da executiva nacional da CUT, realizada nesta quarta-feira (6), no Sindicato dos Bancários de São Paulo.
Participaram da mesa de coordenação dos trabalhos, o presidente nacional e o secretário geral da CUT, Artur Henrique e Quintino Severo, e o diretor técnico do Dieese, Clemente Ganz Lúcio, responsável pela análise de conjuntura e a apresentação de subsídios ao conjunto da direção. “A tônica da recente reunião do G-20 foi a austeridade fiscal, com propostas de redução de 50% do déficit público até 2013, não havendo nenhum debate sobre a regulação do sistema financeiro, motor da atual crise”, denunciou o presidente nacional da CUT, Artur Henrique, para quem é preciso estarmos alertas em relação à retomada da agenda neoliberal pelos países centrais. “Temos um desafio real neste momento de disputa entre dois projetos distintos, onde cresce a importância estratégica da CUT para o debate sobre qual modelo de desenvolvimento queremos, sobre que país vamos construir”, declarou Artur, frisando que, obviamente, o candidato de Fernando Henrique e das privatizações, pedágios e pauladas nos movimentos sociais não nos reserva nada de novo. Na avaliação de Artur, o instrumento fundamental dos cutistas para aglutinar os sete milhões de trabalhadores associados à Central e mobilizar o conjunto da classe por melhores condições de vida e trabalho é a Plataforma da Classe Trabalhadora, que deve servir de referência nas portas de fábrica, nas passeatas e atividades de rua para combater o retrocesso neoliberal encarnado pela candidatura Serra. “Nós vamos colocar a CUT nas ruas para continuar garantindo avanços como os obtidos com a política de valorização do salário mínimo, fruto da nossa pressão e da sensibilidade do governo Lula, que apostou no diálogo e na interlocução”, acrescentou o líder cutista. Clemente Ganz Lúcio lembrou que “os brasileiros vivem hoje uma situação inédita diante da maior crise que o capitalismo passa depois da década de 30. Na nossa economia diferenciada, a crise não é visível para nós. E quando foi, passou rapidamente, diferentemente do período anterior”. Naqueles momentos de triste lembrança, pontuou, em que a Argentina, o México ou a Rússia foram atingidos, o governo caía de joelhos e ficava torcendo para o FMI vir ajudar. Para o diretor técnico do Dieese, é muito importante fazer uma reflexão sobre os caminhos e descaminhos adotados pelos distintos governos, a fim de que a abordagem neoliberal, responsável pela crise, não tire proveito de certas confusões e acabe sendo fortalecida, com a vitória da direita da direita. A questão colocada, alertou, é que há um descompasso entre a acumulação financeira, resultado da especulação, de cerca de 600 trilhões de dólares, e o mundo real, materializado no estoque de capital de 60 trilhões de dólares. “A pergunta é: quem está com esses 540 trilhões restantes? Enquanto este imbróglio não for resolvido, o problema continuará sem solução”, destacou, frisando que os banqueiros querem que os Estados nacionais paguem a conta e injetem recursos públicos para que seja retomada a confiança no sistema. “Depois dos EUA, a crise começou na Europa pela Grécia, onde a dívida pública é monstruosa, cerca de três vez o PIB do país, e que está nas mãos dos bancos que não são gregos”, lembrou Clemente, esclarecendo que vem daí o “terror da Europa”, diante dos ricos de contaminação das demais economias. Como a existência de uma moeda comum como o euro pressupõe um câmbio fixo entre os países europeus, estes países não podem apelar, unilateralmente, para a valorização ou desvalorização cambial, perdendo portanto este instrumento de política econômica. Assim, a Alemanha é quem manda na União Europeia e há dez anos que atua incessantemente num processo de aumento da competitividade, por meio de investimento tecnológico e... contenção salarial. “Reduziram o custo do trabalho em 15% e a Alemanha virou exportadora para toda a União Europeia”. Para ter a competitividade alemã e não verem aumentar exponencialmente sua dívida pública, os estados europeus começam a adotar o mesmo receituário, diminuindo salários e benefícios. “Há uma fragilidade atroz, com os estados muito endividados e com uma evolução da sua dívida pública. Enquanto o nosso déficit público é de cerca de 2,5% do PIB, eles estão com 12%, 13%”, lembrou Clemente. Este “ajuste da competitividade” ou “ajuste fiscal”, disse o diretor do Dieese, fez a Alemanha anunciar o corte de 80 bilhões de euros e 55 mil empregos públicos. “Na Grécia é ainda pior, é alucinação”, explicou Clemente, denunciando que o receituário neoliberal implica em completa desestruturação do pouco investimento existente, com aumento de impostos e diminuição de gastos públicos, cortes drásticos nas aposentadorias, no seguro desemprego, na qualificação profissional e na saúde pública. A existência de um amplo mercado interno em expansão, avaliou Clemente, é um vetor de crescimento forte, ou seja “a desigualdade da nossa sociedade vira uma vantagem, pois há milhões de brasileiros que necessitam de cidadania econômica. O mercado interno é o grande indutor do crescimento, daí a necessidade de respondermos corretamente à equação investimento social versus investimento produtivo”. O mais importante, analisou o técnico do Dieese, é que haja uma ampliação permanente da taxa de investimento público em relação ao PIB, que hoje é de 1,5%, em infraestrutura, estradas, energia. Na contramão, alertou, virão os apóstolos do neoliberalismo e seus meios de comunicação, citando nominalmente a Revista Veja, que tentarão pautar a agenda das reformas, buscando cortes na Previdência, impor limites na valorização dos salários, a suspensão das contratações, a exemplo do que vem tentando ser feito na Europa. Clemente lembrou que o Brasil cresceu em 2009 justamente por ter enfrentado tais dogmas, impostos como receituário, e apostado no crescimento dos salários, no aumento do consumo popular, no fortalecimento do nosso mercado interno. “A nova presidenta assume em janeiro e temos de nos preparar para fazer o enfrentamento com estas concepções que vão querer pressionar pelo retrocesso. Se não nos preparamos, podemos engolir gato por lebre”, enfatizou. Artur Henrique lembrou que é justamente para fazer com que o novo governo aprofunde as mudanças em curso, que a CUT vai jogar peso na popularização da sua plataforma que aposta na ampliação do papel redistributivo do Estado, na consolidação do sistema de seguridade social, no avanço da reforma agrária e da economia solidária, na redução das desigualdades, na garantia da soberania nacional e da integração regional. “Contra o retrocesso estão explodindo greves gerais por toda a Europa, com os trabalhadores afirmando que não aceitam este receituário, que só aprofundará a crise. Da nossa parte, junto com as manifestações de solidariedade, vamos às ruas para fortalecer a nossa concepção de um modelo de desenvolvimento sustentável, com igualdade e distribuição de renda, num estado democrático, com caráter público e participação da sociedade”. |