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CUT: Brasil está preparado para crescimento econômico sustentável Como já era esperado, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2009 alcançou índice próximo a zer 14/03/2010 Como j era esperado, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2009 alcanou ndice prximo a zero. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), a retrao de 0,2% significa que o Pas sofreu muito menos com a crise do que naes como Estados Unidos (PIB de /2,4%), Alemanha e Japo (ambas com /5%). A aposta do governo do presidente Lula na expanso do mercado interno e no Estado como indutor do desenvolvimento, atuando por meio da reduo de impostos, da oferta de crdito atravs dos bancos pblicos e do investimento em infraestrutura, mostrou/se acertada. Porm, preciso lembrar que nem todos apostavam nessa sada. Alguns, inclusive representantes de trabalhadores, defenderam uma agenda negativa que inclua a flexibilizao de direitos e a reduo de salrios. Em entrevista ao Portal Mundo do Trabalho, o Presidente Nacional da CUT, Artur Henrique, fala sobre o PIB, a luta da CUT pelo desenvolvimento contnuo e destaca o embate poltico por um modelo de desenvolvimento inclusivo e democrtico. Portal Mundo do Trabalho / Apesar da queda de 0,2%, o PIB brasileiro foi o sexto maior entre os pases do G20 (grupo das principais economias mundiais). Como voc avalia esse ndice? Para quem previa uma catstrofe, o resultado desanimador e isso se deve a um conjunto de fatores. Primeiro, a postura das centrais sindicais, especialmente da CUT, em cobrar durante a crise, principalmente a partir de setembro de 2008, uma agenda positiva por parte tanto de empresrios quanto do governo. Ns precisvamos enfrentar a crise fortalecendo o mercado interno e isso dependia de algumas aes que j vnhamos debatendo como valorizao do salrio mnimo, as polticas pblicas e sociais implementadas pelo governo Lula e a liberao e aumento do crdito. Inicialmente, os bancos privados dificultaram o acesso ao crdito. Como foi possvel reverter essa situao? As centrais sindicais tiveram que pressionar muito o governo para que liberasse o crdito compulsrio que ficava retido no Banco Central (BC). E mesmo quando o BC liberou, os bancos privados passaram a segurar esse dinheiro, emprestando apenas para quem tinha risco prximo de zero, como grandes empresas, excluindo assim as micro e pequenas. Quem teve de intervir na economia, no apenas como indutor, mas tambm executor do desenvolvimento foi o Estado brasileiro, pressionado pela CUT e pelas demais centrais sindicais. A partir da, passamos a ver a Caixa Econmica, o Banco do Brasil, programas como Minha Casa, Minha Vida, o PAC (Programa de Acelerao do Crescimento), a reduo de impostos com contrapartida de gerao de emprego incentivando o investimento em infraestrutura. A CUT sempre afirmou, ao contrrio de outras centrais, que a crise era grave, mas que o Brasil tinha condies de enfrentar de forma diferente por conta do enorme mercado interno. Tudo isso foi formando uma onda de otimismo contra uma imprensa que vendia uma agenda negativa. Quem esteve ao lado da CUT nessa iniciativa? Ns tivemos apoio de muitos empresrios no Conselho de Desenvolvimento Econmico e Social (CDES) e do governo para implementar essas polticas, que fizeram o Brasil entrar mais tarde nessa crise e sair mais cedo. Quando olhamos hoje o resultado do PIB prximo de zero, voc pensa que o Pas no cresceu, mas observa os pases da Europa e mesmo em alguns pases na sia voc observa uma situao muito mais delicada. Na mdia, a Unio Europia descreu /4% em relao a 2008, todo mundo sofreu com a crise. O Brasil sofreu menos e est preparado para ter um crescimento econmico em 2010 que eu espero seja longo, sustentvel, de 5% a 6%. Quais os problemas que o Brasil ainda precisar resolver para crescer a longo prazo? Estamos vivendo um momento muito rico para discutir o modelo de desenvolvimento que queremos. Os modelos existentes no mundo at ento foram todos derrubados. Caiu o muro de Berlim, e com a crise de setembro de 2008, caiu o muro de Wallstreet. Aquela idia de que o mundo s tinha um modelo em que o mercado iria resolver todo os problemas tambm ruiu. O papel do Brasil e da Amrica Latina demonstrar que podemos criar formatos democrticos, que no apostem apenas em crescimento econmico, mas em desenvolvimento com incluso social, distribuio de renda, valorizao do trabalho e preocupao com sustentabilidade ambiental. Nesse debate, fica cada vez mais claro que precisamos garantir o pleno emprego para poder dar conta de colocar a questo do trabalho no centro do debate do modelo de desenvolvimento. Em relao a essa questo, qual a importncia da reduo da jornada? No d mais para ter uma sociedade onde as pessoas vivam para trabalhar. Devemos ter uma sociedade em que as pessoas tenham mais tempo para lazer, para cultura, para viver com a famlia. Por que um estudante no Brasil precisa comea a trabalhar com 17 anos de idade para aumentar a renda de sua famlia e no considerar a educao at o fim da universidade tambm como sendo trabalho? O perodo de estudo em um colgio ou universidade pblica deve ser considerado como se estivesse trabalhando para o conjunto da sociedade. Claro que estou falando sobre uma sociedade ideal, sobre controle de qualidade da educao no Brasil e no esse modelo em que aprova o piso salarial, mas o professor precisa trabalhar em quatro lugares diferentes para ter um salrio decente, sem tempo de preparar a aula. Queremos um projeto de desenvolvimento a longo prazo e por isso estamos discutindo a Plataforma de Desenvolvimento da Classe Trabalhadora. Precisamos de uma reforma polticaVoc acha que o parlamento j foi convencido da importncia da reduo da jornada? Eu acho que no. Se o Michel Temer colocar o projeto da reduo da jornada em votao, ns teremos 90% dos votos, porque nenhuma dos candidatos daquela Casa vai votar contra os trabalhadores em ano eleitoral. Podemos ter alguns parlamentares, a minoria, comprometidos com os trabalhadores, mas a grande maioria foi financiada por empresas privadas e na hora de escolher entre trabalhadores e empresas privadas, se no houver uma grande presso da classe trabalhadora, vo escolher quem paga a campanha. Hoje, a disputa que temos no Congresso entre nossa capacidade de mobilizao e a capacidade de financiar a campanha eleitoral. Enquanto no houver reforma poltica que faa com que os candidatos se elejam a partir de suas propostas e com financiamento pblico, viveremos essa situao. A luta muito desigual porque o nmero de deputados e senadores vinculados aos trabalhadores muito menor do que aqueles vinculados ao agronegcio, ao sistema financeiro. Esse pessoal no quer que os trabalhadores avancem. Depois da aposta do governo Lula no Estado indutor do desenvolvimento ainda h espao para quem defende o Estado Mnimo no Brasil? Esse debate j no deveria ser o principal, mas por conta de uma parte da mdia ele ainda persiste. O Estado deve ser ao mesmo tempo indutor, regulador, executor e promotor do desenvolvimento. O exemplo dos bancos pblicos que eu citei e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econmico e Social) investindo na iniciativa privada mostram que o papel do Estado executor fundamental. No aquele Estado centralizado, que decide tudo, mas principalmente planejador. Quando voc ouve analistas econmicos na linha do Sardenberg (comentarista da TV Globo) falarem sobre pases como Portugal, Itlia e Grcia, que foram muito mais afetados pela crise do que o Brasil, eles sempre culpam o que chamam de gastana do Estado, porque eles tm uma viso de que o Estado no pode ter sistema de proteo social. Eles acham que essa proteo deve caber apenas a quem ganha um, dois, trs salrios mnimos e o resto da populao que se vire para ter educao privada, pagar um plano de sade. A CUT defende o inverso? Ns queremos um sistema de seguridade social, de educao, de sade que sejam universais e de boa qualidade. Mas, para isso voc precisa ter funcionrios pblicos contratados e com ganhos e estrutura compatveis com sua funo no Pas todo. Quando eu ouo gente do governo dizer que devemos segurar o gasto pblico sinal de que no esto vendo isso como investimento. Hoje temos necessidade de ter projeto porque destruram o Estado brasileiro durante o governo do PSDB de Fernando Henrique Cardoso. A viso tucana de que devemos ter menos Estado, menos poltica pblica. Eles utilizam argumento de que no so contra Estado, mas sim de que necessrio diminuir o gasto pblico. o mesmo que falar que o Incra deve ter menos gente para fazer reforma agrria, que o Ministrio do Trabalho tem que ter menos fiscal para combater quem vai contra a legislao trabalhista. O que eles querem totalmente diferente do que queremos. * Fonte: CUT |