Levantamento confirma alerta da CUT sobre precarização do trabalho
Uma nova pesquisa nacional encomendada pela Central Única dos Trabalhadores (CUT) e realizada pela Vox Populi e pelo Dieese revelou uma contradição marcante no discurso do chamado “empreendedorismo” no Brasil. Embora mais da metade da população acredite que o brasileiro sonha em “ser seu próprio patrão”, 56% dos trabalhadores que deixaram o emprego com carteira assinada para empreender afirmam que desejam voltar ao regime CLT.
Os dados confirmam o que o movimento sindical tem denunciado há anos: “O discurso do empreendedorismo individual serve para esconder a precarização do trabalho e enfraquecer a luta coletiva. O que o povo quer não é ser patrão de si mesmo, é ter emprego digno, com direitos e salário que garanta uma vida decente”, afirma Everton Gimenis, vice-presidente da CUT-RS.
Segundo a pesquisa, realizada com mais de 3,8 mil pessoas em todo o país, o principal motivo que leva trabalhadores a buscar a informalidade é a baixa remuneração do trabalho formal, apontada por 44,5% dos entrevistados, seguida pelas exigências excessivas de qualificação e experiência (38,7%). Ainda assim, o suposto ganho de “autonomia” que o empreendedorismo promete não se confirma na prática.
“Esse discurso tem um forte conteúdo ideológico, construído como ferramenta de desmonte da estrutura de trabalho. Ele vende a ilusão de que o trabalhador autônomo teria mais renda e liberdade, mas o que se vê é justamente o contrário: jornadas extenuantes, custos arcados individualmente e uma exploração ainda maior”, analisa Tiago Vasconcelos, secretário de Relações do Trabalho da CUT-RS.

Da ilusão à realidade
Para Vasconcelos, o “empreendedorismo de necessidade” floresceu num contexto de desemprego e crise econômica, especialmente durante os governos Temer e Bolsonaro. No entanto, com a retomada da atividade produtiva e do emprego no governo Lula, muitos trabalhadores começam a reconhecer o valor da proteção social e da negociação coletiva.
“Hoje o Brasil vive praticamente uma situação de pleno emprego, com aumentos reais de salário e negociações fortes, como vimos entre os metalúrgicos da região metropolitana mesmo após as enchentes de 2024. Isso demonstra que o trabalhador organizado, com carteira assinada, tem mais poder de negociação e segurança do que o suposto empreendedor individual”, aponta Tiago.
A pesquisa também revela outras contradições: 40,9% dos trabalhadores com carteira assinada gostariam de empreender, enquanto entre os autônomos, mais de 86% afirmam que poderiam ou gostariam de voltar ao regime CLT.
“Na prática, a maioria dos autônomos e motoristas de aplicativo percebem que trabalham 10, 12 horas por dia, arcando com todos os custos como de combustível, manutenção, além do desgaste físico e mental e recebendo cada vez menos, porque as plataformas apertam o ganho por hora e por quilômetro”, exemplifica Vasconcelos.
O falso sonho da autonomia
A CUT e o Dieese destacam que o uso crescente do termo “empreendedor” tem sido confundido com o de “autônomo”, o que cria uma narrativa enganosa. Segundo a pesquisa, em cada seis trabalhadores por conta própria, um se identifica como empreendedor.
“O termo foi glamourizado, mas esconde uma realidade dura de insegurança, ausência de direitos e desproteção previdenciária”, alerta Gimenis.
Para a CUT-RS, o fortalecimento da organização sindical e do trabalho formal é essencial para enfrentar a precarização e reconstruir a rede de proteção social do país. “O empreendedorismo de necessidade não é liberdade, é sobrevivência disfarçada”, conclui o dirigente.