Sindicatos da região debatem estratégias de mobilização para a campanha salarial

As direções executivas dos sindicatos de metalúrgicos da região metropolitana de Porto Alegre e do Vale dos Sinos se reuniram na manhã desta segunda-feira (7), para debater as estratégias da mobilização para a campanha salarial 2025/2026. A reunião aconteceu na sede do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de São Leopoldo e Região (STIMMMESL). Nos próximos dias, cada entidade irá lançar a campanha salarial na sua respectiva base.

Durante o encontro, os sindicalistas discutiram como mobilizar a categoria e de construir uma campanha junto com os trabalhadores. O cenário nas fábricas dessas regiões com uma grande procura por mão de obra e salários defasados foram pontos destacados pelos dirigentes, que defendem a unidade entre as entidades e os trabalhadores, mesmo com datas-bases diferentes entre os sindicatos.

A economista do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), Lucia Garcia fez uma apresentação acerca da Conjuntura da Indústria e Trabalho Metalúrgico do RS, divida em três momentos: mudança estrutural, movimento conjuntural e contradições políticas. “O dirigente sindical tem que dialogar com esse mundo e ter autoridade. Hoje todo mundo grita, no instagram, na igreja, em casa… E num mundo que todos gritam, quem tem autoridade? É aquele que conhece para quem fala e tem coerência”, defendeu ela.

De acordo com Lucia, a noção do que norteia o capitalismo, o contexto brasileiro e latino-americano dentro do que ela chamou de “espraiamento do rentismo digital”, o neoliberalismo e o financeirismo da década de 1990 e seus desdobramentos de 2016 a 2021, com o golpe e as reformas, trabalhista e da previdência fazem parte do primeiro bloco.

“Entre as consequências ou sintomas desse capitalismo, na economia e no trabalho, estão o baixo crescimento e a disputa de renda. No Brasil, houveram adequações trabalhistas após a reforma e de modo geral, há uma fragmentação do trabalho para maior poder do capital”, explicou Lucia.

Como a riqueza é produzida e dividida entre patrões e trabalhadores está relacionado com o movimento conjuntural, onde Lucia trouxe considerações e comparações econômicas em relação ao RS e ao Brasil. O estado é campeão dos contratos atípicos de trabalho, ou seja, o estado realmente aderiu a reforma trabalhista. Em relação às tendências do mercado de trabalho no estado, entre os desafios estão a redistribuição geográfica do RS e o envelhecimento da população.

“Pode-se dizer que a indústria gaúcha se adaptou ao cenário que é um contexto de baixo crescimento, mudança da concorrência internacional, desindustrialização nacional e valorização de segmentos fabris tradicionais. Hoje, a contribuição da indústria para a riqueza local é de 18% no RS e 8% para no conjunto da indústria na construção da riqueza do país, estamos na 3ª posição nacional, atrás de São Paulo e Minas Gerais”, explicou.

Outro aspecto que a economista trouxe é em relação as mudanças no mundo do trabalho metalúrgicos, “os trabalhadores aceitaram muito pouco para ter emprego”, disse ela ao chamar atenção para o baixo valor da mão de obra e que muitas vezes, o que é vendido como um aumento na renda dos trabalhadores do setor se deve ao ganho com horas extras e não, com remuneração básica.

Alguns dados sobre o perfil da categoria no RS também foram apresentados. Atualmente, há 20% de mulheres na categoria, mais de 50% dos trabalhadores tem entre 14 a 39 anos e em termos de escolaridade, 61,1% tem ensino médio completo. “É uma categoria jovem é que estão se qualificando, cursando ensino superior ou tecnólogo”, disse.

Finalizando, referente as contradições políticas, Lucia explicou que o Brasil tem inúmeras políticas públicas voltadas à pobreza, porém não amparam a classe trabalhadora. “A gente ter consciência e assumir isso é muito importante e nos ajuda a entender o cenário que estamos”, ponderou.

União de forças

“Precisamos ter um foco econômico para aumentar a massa salarial e tratar os assuntos transversais, como a redução da jornada sem redução de salário e isenção do Imposto de Renda até R$ 5.000,00”, acredita o presidente da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do RS (FTM-RS), Lírio Segalla Lírio Segalla. Ele recordou ano passado, onde a campanha iniciou com um ótimo ritmo e expectativas que foram alteradas por conta da enchente histórica que atingiu parte do RS.

“Neste contexto, tivemos vitórias e derrotas. Vitórias porque os patrões não conseguiram o que queriam e derrotas pois não alcançamos o aumento salarial que almejávamos”, disse. Para Lírio, é importante o movimento sindical voltar a fazer discussões e entender o mundo do trabalho. “O ambiente nas fábricas ainda é hostil e agora, elas pagam mal, o jovem não quer mais trabalhar na indústria.”

O presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci enfatizou que as campanhas da Central visam aumentar a consciência de classe dos trabalhadores. Segundo ele, é preciso enfrentar o neoliberalismo e sua inserção massiva. “Para isso, precisamos saber que o sindicalismo não é feito nos sindicatos, mas nos locais de trabalho. É necessário fazer política junto com as nossas categorias ou isso não vai acontecer. O sindicalismo tem que ser uma saída para as pessoas, fazendo a luta coletiva”, declarou.

Amarildo destacou a grande Marcha da Classe Trabalhadora que acontece no dia 29 de abril, em Brasília, e convocou todos para a atividade do Dia do Trabalhador. “Vamos fazer uma grande festa na tarde do dia 1º de maio, na Casa do Gaúcho em Porto Alegre, com música, animação e defesa das nossas pautas.”

A necessidade de os dirigentes mobilizarem a categoria, não só na campanha salarial, mas por pautas fundamentais para a classe trabalhadora foi ressaltada pelo presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos da CUT (CNM/CUT), Loricardo Oliveira. “A luta pela redução da jornada de trabalho, sem redução de salário, assim como campanhas salariais que tenham êxito dependem da mobilização da base e isso é tarefa nossa, dos dirigentes sindicais e não tenho dúvida que vamos fazer grande campanhas.”

A reunião foi coordenada pelo presidente do Sindicato dos Trabalhadores Metalúrgicos de Canoas e Nova Santa Rita (STIMMMEC) e Secretário de Formação e Política Sindical da FTM-RS, Paulo Chitolina e pelo vice-presidente do STIMMMESL e pelo coordenador da região da Grande Porto Alegre, Rogério Bandeira Cidade. As assessorias jurídicas dos sindicatos presentes e da Federação acompanharam a atividade.

Fonte: STIMMMESL

Fotos: Renata Machado e Jorge Schell

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