Não é possível falar em igualdade feminina sem analisar de forma profunda o sistema capitalista. O capitalismo depende das mulheres para garantir a continuidade da produção. Se, por alguns anos, por exemplo, as mulheres resolvessem não ter filhos, o sistema entraria em crise. Isso porque são elas que geram a vida de uma nova força de trabalho e, ao mesmo tempo, garantem o consumo necessário para a reprodução dessa vida.
Mas, sendo as mulheres tão fundamentais, por que ainda recebem menos que os homens? A resposta está na cultura que naturaliza a maternidade como destino. Vende-se a ideia de que a mulher tem um “instinto materno” inato e, portanto, quase divino, como se ser mãe fosse obrigação e condição de realização pessoal. Essa lógica serve para justificar salários mais baixos e precarização. Outro mito que reforça essa desigualdade é o de que, por terem filhos, as mulheres faltarão mais ao trabalho, como se os cuidados fossem uma responsabilidade exclusiva delas.
Na prática, os filhos são quase sempre considerados “da mãe”. Cabe a ela alimentar, educar, acompanhar e cuidar. Isso leva muitas mulheres a deixarem de trabalhar ou a não conseguirem se dedicar plenamente à carreira. A ausência de uma rede de apoio faz com que, mesmo quando as empresas aparentam oferecer igualdade de oportunidades, elas não consigam competir em condições reais com os colegas homens. Além dos filhos, muitas ainda assumem o cuidado com outros familiares, inclusive parentes do próprio marido. Mas afinal, sobre quem deveriam recair essas responsabilidades? No capitalismo, a família é tratada como problema individual, e não como uma questão coletiva que exige políticas públicas.
Hoje, muitas mães recorrem a creches ou a familiares para cuidar das crianças. No entanto, não são raros os casos em que mulheres deixam o emprego para assumir integralmente esse cuidado. Muitos dizem que foi uma “escolha”, mas que escolha é essa? Na verdade, quase nunca há opção: as mulheres precisam garantir sustento para si e para os filhos.
Na categoria metalúrgica, por exemplo, a convenção coletiva garante um auxílio-creche de R$ 383,16, valor muito distante da realidade, já que uma creche de qualidade custa em torno de R$ 2.000. Essa é uma luta histórica do Sindicato, que ainda não avançou o suficiente.
Outro tema central é a brutal escala 6×1. Ela atinge de forma ainda mais dura as mulheres, sobretudo as mulheres negras, que ocupam os postos mais precarizados. Como falar em qualidade de vida e igualdade de gênero se sequer há tempo para o autocuidado? O fim dessa escala é uma necessidade urgente para todos, mas principalmente para as trabalhadoras.
Por isso, neste dia 26 de agosto, onde celebramos o Dia da Igualdade Feminina, quando reivindicamos igualdade, não podemos desvincular essa luta das condições de vida das mulheres metalúrgicas. Igualdade não se resume a permitir que elas ocupem espaços socialmente vistos como “masculinos”. Isso também importa, mas não é o essencial. O fundamental é conquistar condições realmente igualitárias, que garantam às mulheres uma vida digna, com tempo, autonomia e oportunidades reais. a postura firme e transparente do Sindicato durante todo o processo de negociação.