Diferente do que muitos afirmam, nem tudo tem um preço, principalmente se você ama alguém
Quanto vale a vida do seu filho? Ou a do seu marido, esposa, pai ou mãe? Essa pergunta pode soar estranha, afinal, é evidente que ninguém colocaria preço naquilo que ama. Nenhum dinheiro do mundo supera o valor de nossos entes queridos. Porém, talvez algumas empresas pensem diferente. Basta observar a quantidade de acidentes de trabalho que ocorrem constantemente nas fábricas da nossa região.
Entre 2012 e 2024, os municípios de Alvorada, Eldorado do Sul, Guaíba, Glorinha, Porto Alegre e Viamão — que integram a base do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre — somaram mais de 230 mil acidentes de trabalho registrados pelo INSS. Diante desses números, é preciso fazer uma pergunta às empresas: o que é mais importante — o lucro ou a vida dos trabalhadores?
Se uma empresa não se preocupa com a segurança de seus trabalhadores e tem como única prioridade a entrega de uma peça ou produto, ela está dizendo claramente o que valemos para ela: menos que uma peça.
Porto Alegre lidera esse triste ranking, com 215.162 acidentes de trabalho. São mais de 36 mil casos de cortes e feridas abertas, quase 34 mil escoriações e mais de 28 mil fraturas. E o cenário se agrava ainda mais quando consideramos jornadas de trabalho exaustivas, que impedem o descanso necessário para garantir a saúde física e mental.
Às vezes, dizem que somos contra o trabalho ou contra a empresa X ou Y. Mas a verdade é que, se essas empresas colocam em risco a vida de um trabalhador, isso não é natural, nem aceitável. Alguém precisa defender nossas vidas — e se não forem os sindicatos a fazer isso, quem fará?
Outro dado alarmante: 974 menores de 18 anos foram vítimas de acidentes de trabalho no mesmo período. Isso revela o quanto a precarização atinge até os mais jovens, um retrato cruel da realidade que precisa ser combatida com urgência.
Não podemos também esquecer da saúde mental dos trabalhadores e trabalhadoras. Enfrentar uma jornada de seis dias por semana, com apenas um dia de folga para lazer, autocuidado, cuidados com os filhos e com a casa, é insustentável. Muitos dizem que seus chefes também trabalham muito, mas é importante refletir: como vivem esses chefes? Suas condições de vida são parecidas com as nossas?
Em Alvorada, foram 3.332 acidentes registrados. A principal ocupação dos afastados é a de alimentador de linha de produção — uma função repetitiva, exposta a riscos mecânicos, esforço físico e jornadas extensas. Em Eldorado do Sul, o setor de fabricação de embalagens metálicas lidera o número de acidentes, com 3.469 ocorrências, entre cortes profundos, fraturas e torções. A falta de automação segura, o uso de maquinário antigo e a pressão por produtividade são fatores recorrentes nessas ocorrências.
Somando todas as cidades da base do sindicato, são mais de mil acidentes com menores de 18 anos. Isso é inaceitável. Crianças e adolescentes não podem pagar com o corpo pela sobrevivência. Essa situação exige fiscalização firme e ações permanentes de proteção à juventude.
O Rio Grande do Sul ocupa o terceiro lugar no país em número de acidentes de trabalho. Esses números gritam por mudanças. Afinal, acidente de trabalho não é “acidente” quando a causa é a negligência, o descaso ou a pressão.
Mas o que pode ser feito para mudar essa realidade?
A transformação começa com ações pequenas e vai até decisões estruturais. É como um motor de máquina: todas as peças são fundamentais para o funcionamento. Nós, trabalhadores, precisamos usar adequadamente os EPIs, sem subestimar sua importância. Por outro lado, a empresa deve fornecer os equipamentos corretos e eliminar os agentes insalubres do ambiente.
E se isso não estiver ocorrendo na sua empresa, procure o Sindicato. Recebemos denúncias de várias regiões e sempre que possível as encaminhamos para o Ministério do Trabalho ou a entidade competente.
Nossa vida está em jogo — e nesse jogo, só existe um lado que pode perder.
Vamos juntos mudar essa realidade?
Luiza Alves – Comunicação STIMEPA