Nos dias 4 e 5 de novembro de 2025, a cidade de Mar del Plata, na Argentina, voltou a ser o centro da história latino-americana. Movimentos sociais, sindicatos e organizações populares de todo o continente se reuniram para celebrar os 20 anos da derrota da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) — um projeto de subordinação econômica e política liderado pelos Estados Unidos que foi rejeitado pelos povos da América Latina em 2005.
O Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre esteve presente nesse importante momento. Representando a entidade, participaram os diretores Marcelo Jurandir, Hugo Barbosa e Diego Cardoso, reafirmando o compromisso histórico da categoria com a integração solidária e soberana dos povos latino-americanos.

O que foi a ALCA
A Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) foi uma proposta de bloco econômico apresentada em 1994, durante a Primeira Cúpula das Américas, nos Estados Unidos. A ideia era criar uma zona de livre comércio entre todos os países do continente, com exceção de Cuba, reduzindo tarifas e barreiras alfandegárias para permitir o livre trânsito de mercadorias, serviços e investimentos.
Na prática, a proposta colocava as economias latino-americanas sob risco de total dependência, pois eliminava instrumentos de proteção industrial e social. Diante das desigualdades históricas entre os países do Norte — especialmente os Estados Unidos e o Canadá — e as nações da América Latina e do Caribe, o projeto reforçaria a concentração de poder econômico e político nas mãos das potências.

Mar del Plata 2005: o túmulo da ALCA
Foi justamente em 5 de novembro de 2005 que Mar del Plata se tornou símbolo da resistência latino-americana. Naquele ano, durante a IV Cúpula das Américas, o então presidente norte-americano George W. Bush tentou acelerar a assinatura do acordo. Do outro lado, milhares de manifestantes — sindicalistas, camponeses, indígenas, estudantes e militantes de toda a América Latina — ocuparam as ruas e o Estádio Mundialista com uma palavra de ordem: “Não à ALCA!”.
Enquanto Bush se reunia com líderes como Vicente Fox (México) e Martín Torrijos (Panamá), uma “Cúpula dos Povos” acontecia em paralelo, reunindo nomes históricos como Hugo Chávez, Evo Morales, Hebe de Bonafini e Diego Maradona.
A resistência popular se somou à posição firme de governos como os de Lula (Brasil), Néstor Kirchner (Argentina), Tabaré Vázquez (Uruguai) e Hugo Chávez (Venezuela), que se recusaram a aceitar um acordo que significasse abrir mão da soberania de seus países. Ao final da reunião, o bloco formado pelos países do Mercosul e do Caribe rejeitou a proposta. A ALCA estava derrotada.

Resistência, unidade e soberania
A derrota da ALCA foi resultado de anos de mobilização social e articulação continental. Desde os anos 1990, sindicatos, movimentos populares e lideranças progressistas alertavam sobre os perigos do acordo. Encontros hemisféricos e fóruns sociais, como o Fórum Social Mundial e o Encontro de Luta Contra a ALCA, em Havana, fortaleceram a unidade entre as organizações de trabalhadores de toda a América.
Essas lutas marcaram uma geração e abriram caminho para uma nova fase de integração regional, pautada na solidariedade e na defesa da soberania.
Em nosso acervo é possível encontrar diversas mobilizações que ultrapassaram os anos e foram ganhando força para dizer não à iniciativa americana.

20 anos depois: o desafio continua
O encontro realizado agora, em 2025, sob o lema “Pela soberania dos povos, contra a direita e o neoliberalismo”, reuniu delegações de diversos países latino-americanos. A atividade debateu os desafios atuais da região, como a defesa das políticas públicas, o combate às desigualdades e a necessidade de retomar a integração regional baseada na solidariedade e na democracia.
Durante o evento, foram lembradas as conquistas das últimas décadas e reafirmado o papel dos sindicatos na construção de um continente livre da exploração e da dependência.

Um compromisso histórico
O Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre sempre se posicionou contra a ALCA e contra toda forma de recolonização do continente. Para o movimento sindical, defender a soberania é também defender o emprego, a indústria nacional e as políticas públicas que garantem dignidade aos trabalhadores e trabalhadoras.
Duas décadas depois, a mensagem que ecoou nas ruas de Mar del Plata continua atual: “Não à ALCA! Soberania, integração e democracia para os povos da América Latina!”