CUT-RS promove seminário para aproximar sindicalismo e economia solidária

Encontro reuniu movimento sindical e empreendimentos solidários para debater autogestão, cooperação e fortalecimento

A iniciativa integra uma agenda estratégica da CUT-RS voltada ao enfrentamento das desigualdades estruturais, à ampliação da autonomia da classe trabalhadora e ao estímulo de práticas econômicas que coloquem a solidariedade no centro das relações produtivas

A iniciativa integra uma agenda estratégica da CUT-RS voltada ao enfrentamento das desigualdades estruturais, à ampliação da autonomia da classe trabalhadora e ao estímulo de práticas econômicas que coloquem a solidariedade no centro das relações produtivas

A Central Única dos Trabalhadores do Rio Grande do Sul (CUT-RS) promoveu, nesta quarta-feira (17), o Seminário “Economia Solidária e Sindicalismo”, no auditório do SindBancários, em Porto Alegre. A atividade reuniu trabalhadoras, trabalhadores, dirigentes sindicais, representantes de empreendimentos solidários e gestores públicos para debater modelos econômicos alternativos baseados na cooperação, na autogestão e na valorização do trabalho humano.

O encontro teve como objetivo aproximar o movimento sindical das experiências concretas da economia solidária, fortalecendo a construção de um projeto de desenvolvimento mais justo, democrático e inclusivo. A iniciativa integra uma agenda estratégica da CUT-RS voltada ao enfrentamento das desigualdades estruturais, à ampliação da autonomia da classe trabalhadora e ao estímulo de práticas econômicas que coloquem a solidariedade no centro das relações produtivas.

A mediação do seminário ficou a cargo do vice-presidente da CUT-RS, Everton Gimenez, que destacou a importância do diálogo entre sindicatos, empreendimentos da economia solidária e mandatos de esquerda. Segundo ele, o espaço reforça a necessidade de interação permanente entre o movimento sindical, as experiências de base e as iniciativas institucionais comprometidas com outro modelo de desenvolvimento.

Vice-presidente da CUT-RS, Everton Gimenez

O presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci, fez uma autocrítica ao reconhecer que a central sindical ainda está em débito com o tema. Segundo ele, apesar dos avanços recentes no cenário político nacional e estadual, é preciso ir além do apoio formal e assumir a economia solidária como uma política estratégica.

Cenci destacou o potencial de parcerias entre governo, sindicatos e empreendimentos solidários e afirmou que a CUT precisa “entrar mais no jogo”, ajudando a tracionar políticas objetivas que fortaleçam o setor no Brasil. “Nós temos um potencial muito grande de parceria e fortalecimento das partes a nível nacional. Então, a CUT precisa definir uma política que não é só discutir o tema, de ser um apoiador, mas também um construtor”, afirmou. 

Presidente da CUT-RS, Amarildo Cenci

União e fortalecimento

Nesse sentido, o superintendente regional do Trabalho no Rio Grande do Sul, Claudir Nespolo, ressaltou que a economia solidária é resultado de uma longa trajetória de organização popular e que o movimento sindical precisa reconhecer, respeitar e somar a essas experiências. Para ele, mais do que discursos de apoio, é necessário transformar práticas cotidianas, como as compras e contratações feitas pelos sindicatos.

“Eu desafio aqui priorizar a economia solidária nas compras sindicais. O que o sindicato precisa, a economia solidária produz? Quando fazem um evento, são feitos orçamentos com a economia solidária?”, provocou. Nespolo defendeu que as entidades sindicais priorizem fornecedores da economia solidária sempre que possível, fortalecendo os empreendimentos já existentes e consolidando uma política concreta de apoio ao setor.

Superintendente regional do Trabalho no Rio Grande do Sul, Claudir Nespolo

Representando o governo federal, o secretário nacional de Economia Popular e Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Gilberto Carvalho, enfatizou a importância da participação do movimento sindical no fortalecimento da economia solidária. “Nós estamos tentando apoiar os companheiros e companheiras para que tenham a sua possibilidade de desenvolver a sua cooperativa, que é a única forma de trabalhar sem a exploração típica do capital”, destacou.

Para ele, diante das profundas transformações no mundo do trabalho e da diversificação das formas de emprego, a autogestão e o cooperativismo surgem como caminhos para garantir trabalho e renda dignos, sem a exploração típica do capital. Carvalho também apontou desafios, como a necessidade de melhorar a comunicação com a população, que muitas vezes desconhece as políticas públicas existentes, e reforçou que a economia solidária não é apenas um modelo econômico, mas “um modo de viver com dignidade”.

Secretário nacional de Economia Popular e Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Gilberto Carvalho

O secretário nacional de Economia Solidária da CUT e diretor do Sindicato dos Trabalhadores em Processamento de Dados, Informática e Tecnologia da Informação de Pernambuco (SINDPD/PE), Admirson Medeiros, conhecido como Greg, destacou que o seminário cumpre um papel fundamental de estímulo a um debate que precisa ganhar centralidade no movimento sindical. Ele lembrou que a economia solidária já faz parte das resoluções congressuais da CUT e que o desafio atual é ampliar a compreensão da organização da classe trabalhadora sobre os impactos da precarização, da plataformização do trabalho e da redução de direitos, alertando que as tecnologias e as plataformas digitais têm aprofundado a fragmentação da classe trabalhadora. Nesse contexto, defendeu a criação de plataformas próprias da classe trabalhadora e a construção de um coletivo permanente para aproximar sindicatos e empreendimentos solidários, pensando estratégias conjuntas de transformação social.

Secretário nacional de Economia Solidária da CUT e diretor do SINDPD/PE, Admirson Medeiros (Greg)

“Hoje o nível de sindicalização, por exemplo, é baixíssimo. São poucos os sindicatos que conseguem ter um nível de sindicalização alto. Daí a necessidade da gente criar um coletivo que pense uma estratégia de aproximar o nosso sindicato, os empreendimentos da economia solidária e ver como é que a gente pode, junto, fazer esse processo de transformação”, completou Greg.

Relações de trabalho

A coordenadora geral da Guayí – Democracia, Participação e Solidariedade e integrante da Rede Feminista de Economia Solidária, Helena Bonumá, ressaltou que a economia solidária faz sentido porque responde diretamente às necessidades concretas da vida das pessoas. Segundo ela, essas experiências representam resistência, sobrevivência e inserção social nos territórios, com articulação de trabalho, renda e pertencimento comunitário.

Bonumá destacou a diversidade das experiências autogestionárias existentes nas cinco regiões do país e defendeu a necessedidade de rediscutir as relações de trabalho e ressignificar a economia solidária. Ela também parabenizou a CUT pela convocação do seminário e pelo esforço de intermediação com o movimento sindical. “O diálogo aqui é o diálogo da CUT e com o movimento sindical. Como militante socialista, a autogestão do trabalho está no nosso DNA. É preciso ousadia para rediscutir as relações de trabalho e ressignificar a economia solidária em um país gigante como o Brasil, marcado pela diversidade produtiva, étnica e cultural”, destacou.

Coordenadora geral da Guayí – Democracia, Participação e Solidariedade e integrante da Rede Feminista de Economia Solidária, Helena Bonumá

A diretora-presidente das cooperativas Univens e Justa Trama, Nelsa Nespolo, trouxe um relato concreto da relação histórica entre cooperativas e sindicatos. Ela lembrou que a Univens, formada majoritariamente por mulheres da periferia da zona Norte de Porto Alegre, conseguiu se viabilizar economicamente quando passou a fornecer camisetas para sindicatos, como o dos metalúrgicos, parceria que se mantém até hoje. “Por apostarem num grupo de 35 mulheres da periferia que fez com que chegássemos onde nós estamos até hoje.”

Para ela, a relação demonstra a possibilidade de construir um conceito ampliado de classe trabalhadora. Ao mesmo tempo, alertou para os desafios da informalidade, que coloca trabalhadores e trabalhadoras na invisibilidade, sem direitos, renda garantida ou aposentadoria, apontando a necessidade de políticas que enfrentem essa realidade.

Marcelo Nascimento, diretor do Sindicato e membro da diretoria da Unisol acompanhou o debate

Reflexão sindical

Já Cláudio Nascimento, da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes), destacou a autogestão como princípio fundamental da economia solidária, inseparável da educação popular. Ele afirmou que esse tripé — autogestão, educação popular e economia solidária — está na base das experiências históricas de organização do trabalho no Brasil. Nascimento provocou a CUT a refletir sobre suas próprias escolhas ao longo do tempo e defendeu que a central amplie permanentemente sua atuação, superando o fechamento para os territórios e para as experiências de base.

Cláudio Nascimento, da Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes)

“A Central Única dos Trabalhadores nasceu com essa inspiração de vir das bases, das comissões de fábrica, etc… Então a grande questão é essa: alargar a sua ação de uma maneira mais permanente, quebrar essa descontinuidade, sobretudo por razões internas, de permanecer num sindicalismo fechado em si próprio, sem se abrir para a cidade, sem se abrir para os territórios”, pontuou Nascimento.

Ao final do seminário, houve participação de trabalhadoras, trabalhadores e dirigentes sindicais que contribuíram para o debate de consolidar alternativas econômicas capazes de enfrentar os desafios contemporâneos do mundo do trabalho, com o apoio e fortalecimento do movimento sindical, apontando caminhos para uma economia mais democrática, solidária e comprometida com a vida digna.

Texto: Clara Aguiar
Fotos: Luiza Alves

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