Ato em antigo quartel do Exército cobra punição a torturadores da ditadura

Militantes identificaram local como ponto de tortura dirante a ditadura militar

Centenas de militantes do Comitê Popular Memória, Verdade e Justiça do Rio Grande do Sul realizaram nesta terça-feira (28) um ato político de identificação da praça Raul Pilla, em Porto Alegre, como um local de tortura durante a ditadura (1964-1985). Naquela época, o espaço na esquina da rua Duque de Caxias com a avenida João Pessoa era a sede da 6ª Companhia de Polícia do Exército, quartel onde servia o capitão Carlos Lamarca – que desertou em 1969 para aderir à luta armada contra o regime.

Os manifestantes aproveitaram a data de 28 de agosto para lembrar os 33 anos da promulgação da Lei da Anistia pelo general João Figueiredo e pedir a revisão da norma para que os agentes do Estado que praticaram crimes de lesa-humanidade possam ser punidos. “Reafirmamos a luta por uma memória aberta, para a qual a verdade e a Justiça sejam condições indissociáveis para desvendar os crimes que sepultaram a memória nacional”, diz o manifesto distribuído pelo grupo.

O ato contou com a presença de dezenas de ex-presos políticos, muitos dos quais foram detidos no quartel que funcionava na praça Raul Pilla. Amadeu Ferreira, que comandou um grupo de sargentos rebelados contra a ditadura e participou da guerrilha na Serra do Caparaó, em 1966, fez questão de nomear os oficiais que torturaram e assassinaram Manoel Raimundo Soares no quartel da 6ª PE. “Alguns deles ainda devem estar vivos, se escondendo. Estive preso aqui por alguns dias e fui colocado numa cela imunda chamada de Boi Negro”, contou. O corpo do sargento Raimundo Soares foi encontrado boiando no Rio Jacuí no dia 24 de agosto de 1966, com sinais evidentes de tortura. O caso ficou conhecido como “Mãos Amarradas” e motivou a abertura de uma CPI na Assembleia Legislativa. Assim como ele, também foi detido no quartel da 6ª PE o coronel da Aeronáutica Alfredo Ribeiro Daudt, que, em 1961, liderou um grupo de suboficiais na base aérea de Canoas que se negaram a cumprir a ordem de bombardear o Palácio Piratini, em função da resistência do então governador Leonel Brizola no episódio que ficou conhecido como a “Campanha da Legalidade”. Após o golpe de 1964, Lamarca, que servia no local, ajudou Daudt a fugir.

O ato contou com a presença de lideranças políticas, como o ex-governador gaúcho Olívio Dutra (PT), o procurador-geral do Estado, Carlos Henrique Kaipper (PT), e os deputados estaduais Raul Carrion (PCdoB) e Nelsinho Metalúrgico (PT). Aclamado pelos militantes, Olívio disse que é preciso “resgatar não só a memória e a verdade, mas a Justiça e a punição daqueles que praticaram arbitrariedades”. O ex-governador lamentou que as estruturas de Estado no Brasil ainda não se libertaram totalmente da influência de grupos que atuavam durante a ditadura. “O Estado ainda não está sob controle público”, criticou.

O Comitê Popular Memória, Verdade e Justiça do Rio Grande do Sul foi criado em julho deste ano e é composto por dezenas de entidades sociais e sindicais, além de militantes partidários. O ato desta terça-feira (28) em Porto Alegre ocorreu de forma simultânea com o de Três Passos, onde um grupo realizou um escracho silencioso em frente ao Hospital de Caridade, que abrigava um centro de prisões e torturas na década de 1970. As manifestações também contaram com a participação do Levante Popular da Juventude.

Samir Oliveira

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