Ato “Da Memória Ninguém Apaga” reúne ex-abrigados e trabalhadores na Escola Mesquita

Reencontro emocionado resgata a memória da solidariedade vivida nas cheias de 2024 e lança alerta por moradia digna e prevenção

A emoção tomou conta da tarde do último sábado (10) na Escola Mesquita, em Porto Alegre, durante o ato “Da Memória Ninguém Apaga”. Promovido pelo Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre, o evento reuniu trabalhadores, voluntários, ex-abrigados e lideranças sindicais para lembrar o papel essencial da escola e do sindicato durante a maior enchente da história do Rio Grande do Sul, ocorrida em maio de 2024.

A atividade teve como propósito reencontrar aqueles que fizeram parte do abrigo solidário organizado no local, preservar os laços formados naquele momento e reforçar a importância da memória coletiva diante das tragédias sociais. “A escola nunca mais foi a mesma”, afirmou a diretora Claudete Oliveira. “Criamos novos projetos inspirados na experiência que tivemos aqui durante o abrigo.”

Além de registros emocionantes, como fotos e vídeos expostos num espaço de memórias, o evento contou com brinquedos para as crianças, um tecido estendido para mensagens e assinaturas dos participantes e um almoço simples, preparado com carinho por Rogério Dallo, que foi responsável pela cozinha do abrigo em 2024.

Entre os presentes estavam Amarildo Cenci, presidente da CUT, e Claudir Nespolo, superintendente regional do Trabalho no Rio Grande do Sul, que também prestaram homenagens aos envolvidos. Durante a cerimônia, foi inaugurada uma placa comemorativa com a frase que marcou o espírito coletivo do abrigo: “Cada um foi essencial para esse abrigo. Todos — cada um — foram um tijolinho. Cada um foi parte da construção”, declarou Adriano Filippetto, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre.

O momento mais forte da tarde foi a leitura da carta “Carta de Maio: VOZES SUBMERSAS“. No texto, lido pela diretora da Escola, são feitas reivindicações à prefeitura e ao governo do estado por medidas concretas contra futuras enchentes como habitação digna, infraestrutura urbana adequada e políticas de prevenção.

Lilian Beatriz Borges da Rosa, ex-abrigada na Escola Mesquita, resumiu o sentimento de todos: “Vocês deram o melhor de vocês para que não sentíssemos tanta dor.” O ato reafirmou que, diante da dor, a solidariedade é a resposta mais potente e que jamais podemos esquecer o que aconteceu para que possamos cobrar todos os dias um vida digna para todos os trabalhadores.



Leia na íntegra a carta:

Carta de Maio: VOZES SUBMERSAS

Porto Alegre, 10 de maio de 2025

Assinam esta carta: Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre, Escola Técnica José César de Mesquita, CUT, UAMPA, demais movimentos sociais parceiros e todas as famílias abrigadas e presentes neste ato.

Há um ano, em maio de 2024, o Rio Grande do Sul viveu uma das maiores tragédias climáticas de sua história. Em Porto Alegre, bairros inteiros foram inundados, e milhares de famílias perderam tudo — suas casas, seus documentos, seus pertences, seus trabalhos, suas memórias. A Escola Técnica José César de Mesquita e o Sindicato dos Metalúrgicos de Porto Alegre se tornaram, naquela ocasião, abrigo para mais de 200 pessoas, reafirmando o papel das instituições da sociedade civil e populares como suporte em tempos de crise.

Hoje, passado um ano, nos reunimos novamente não para comemorar, mas para lembrar. Para afirmar que não esquecemos — e que não aceitaremos o esquecimento. Esta carta nasce do compromisso com a memória coletiva, com a verdade e com a justiça social. É um grito vindo dos escombros, dos abrigos, das ruas, das famílias desalojadas, das promessas não cumpridas.

As águas baixaram, mas a emergência continua.


Reivindicamos das autoridades, em todas as esferas, respostas concretas e urgentes às necessidades de quem foi atingido e segue vulnerável. Reafirmamos, ponto a ponto, o que nos foi prometido e ainda não foi realizado:

·        Apresentação imediata de projetos de reforço dos diques e obras de contenção que garantam segurança às populações e evitem novos desastres;

·        Elaboração participativa de um plano de ação para eventos climáticos futuros, com transparência, escuta popular e foco em prevenção;

·        Prioridade e agilidade na construção e entrega de moradias definitivas, com garantia de infraestrutura básica, acesso à cidade e dignidade;

·         Atenção integral à saúde mental, com atendimento psicológico gratuito e continuado para crianças, jovens, mulheres, idosos, trabalhadores de resgate e demais atingidos;

·        Manutenção regular de bueiros, canais, casas de bombas e comportas garantindo o funcionamento pleno do sistema de contenção, com transparência na execução e fiscalização;

·        Transparência total sobre os planos da Defesa Civil e os recursos públicos destinados à reconstrução, com prestação de contas acessível à sociedade civil;

·        Destinação rápida e eficaz dos entulhos acumulados nos bairros atingidos, cuja permanência contribui para a proliferação de doenças como a dengue;

·         Reconstrução com justiça social do 4º Distrito de Porto Alegre (Floresta, São Geraldo, Farrapos, Navegantes e Humaitá), e o bairro Sarandi com prioridade para os mais afetados, como a população negra, mulheres chefes de família, pessoas em situação de rua e trabalhadores informais.

Sabemos que as emergências climáticas são uma realidade irreversível e que exigem ações estruturais urgentes. Mas também sabemos que o que mata não é apenas a enchente — é o descaso. O que afunda não é apenas a cidade — é a dignidade humana. Nesse contexto, a transição ecológica e sustentável representa uma mudança radical nos sistemas econômicos, sociais e tecnológicos, orientada por um modelo de desenvolvimento que respeita os limites da natureza e dos recursos naturais. Trata-se de promover não apenas a adaptação aos impactos ambientais, mas também a construção de uma sociedade mais justa, com qualidade de vida e justiça social no centro das decisões.

Portanto, este ato não é apenas de lembrança. É de exigência. É de cobrança. E será, se necessário, de resistência.

O povo não esquece. A cidade resiste. E a reconstrução precisa c
omeçar por quem mais perdeu.”


Luiza Alves – Comunicação STIMEPA


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