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A principal fonte de corrupção no Brasil
Pessoas ingênuas e de boa fé acreditam que o núcleo da corrupção no Brasil está na Esplanada dos Ministérios ou nas estatais. É um equívoco.
29/01/2016

Pessoas ingênuas e de boa fé acreditam que o núcleo da corrupção no Brasil está na Esplanada dos Ministérios ou nas estatais. É um equívoco. A verdadeira máquina de assalto aos cofres públicos em favor de apaniguados privados, especialmente do setor financeiro, encontra-se no Setor Bancário Sul do Plano Piloto, ou mais especificamente no Banco Central do Brasil. Ali, sob a cobertura de operações monetárias especiais só dominadas por “especialistas”, rouba-se à vontade longe de qualquer tipo de fiscalização da cidadania.

Não se trata de abstrações ou acusações infundadas. Manobras financeiras com os chamados “derivativos” representaram, no ano passado, doações ao setor financeiro da ordem de R$ 89,6 bilhões, conforme dados oficiais, sendo que a perda correspondente foi transferida pelo Banco Central ao Tesouro. Isso significa mais de 40 vezes tudo que se tem dito sobre as fraudes na Petrobrás por parte da quadrilha de diretores que se apossou da estatal e a saqueou durante anos a fio!

Generoso com os bandidos do setor financeiro, o Banco Central é excessivamente parcimonioso com os agentes produtivos da economia. Sobre estes recaem as taxas extorsivas de juros que em outros partes do mundo, se efetivadas, resultariam em cadeia. Para ancorar essas taxas extorsivas numa política monetária restritiva – quando menos dinheiro houver no mercado mais “natural” é o aumento da taxa de juros -, o Banco enxuga continuamente as disponibilidades de moeda, fechando o cerco ao setor real da economia.

Que a sociedade não se mobiliza para reagir à quadrilha monetarista não deve surpreender: a política monetária é camuflada em tecnicalidades e sempre justificada com pretextos obscuros. O absurdo é não ter havido reação efetiva no Congresso, seja de partidos da oposição seja da situação. É a prova mais cabal da pusilanimidade da maioria dos nossos parlamentares. Tolerar uma taxa básica de juros de 14,25%, sabendo que a inflação brasileira não tem origem na demanda, é se acumpliciar com os quadrilheiros monetários.

Os ingênuos talvez pensem que não há interesse próprio em jogo na política monetária. É um engodo. Rastreiem as carreiras dos ex-diretores da instituição depois que largaram seus cargos. Em geral, viraram altos funcionários de bancos, ganhado milhões de reais por ano. Isso é pagamento por serviços prestados e, mais do que isso, acesso a informação privilegiada porque eles largam os cargos mas mantem as relações no banco. Duvidam? Esperem pela próxima leva de ex-diretores, quando se cansarem de defender o “interesse público” diretamente no BC.

Os R$ 89,6 bilhões a que me referi, literalmente doados a apaniguados do setor financeiro, se referem a um derivativo que leva o elegante nome de “swap cambial”, mas que no fundo não passa de uma operação de aposta de cartas marcadas entre taxas de juros e taxa de câmbio. Como tanto taxa de juros como câmbio estão sob controle indireto do Banco Central, ele dá o prêmio a quem quiser, de acordo com os olhos do freguês. Essa farra no mercado financeiro brasileiro vem desde os tempos de Armínio Fraga, que a inventou, passando por Henrique Meirelles. Tutti bona gente!

Alguém pode perguntar: Não tem como parar isso? Afinal, R$ 89, 6 bilhões é muito dinheiro em qualquer parte do mundo. Aqui seriam mais de 896 prêmios de loteria de R$ 100 milhões cada, dados de graça para o mercado financeiro. Se acham pouco, considerem que, desde meados de 2014, o volume acumulado de doações em “swap” atingiu cerca de R$ 130 bilhões. Façam as contas e confiram: isso é resultado exclusivo de um jogo de cartas marcadas operado pelo Banco Central sob a máscara de sua “independência” operacional.

Há uns seis anos, no tempo do inefável Meirelles, tentei, junto com dois especialistas, paralisar esse assalto às contas públicas. Denunciamos formalmente o esquema na Polícia Federal e na Procuradoria da República no Rio. Não soube de qualquer consequência. Aparentemente não entenderam a operação e nada fizeram. Infelizmente, não é simples. Apelei para o então vice-presidente José Alencar, meu querido amigo. Ele também não entendeu e, como já estava doente, não forcei a mão. O remédio definitivo será incluir o tema na pauta da Aliança pelo Brasil, junto com as propostas de regeneração da economia.

Por: José Carlos de Assis, economista, doutor pela Coppe/UFRJ
 
 
 
 
 
 
 
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