Sindicalismo também é coisa de mulher: nova geração de lideranças sindicais é marcada pela força das mulheres

A velha ideia de que mulheres competem entre si ainda ronda o senso comum, seja no ambiente de trabalho ou na vida pessoal. Mas quem conhece a trajetória de Taíse Almeida, diretora do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre, e Eliane Morfan, vice-presidenta da Federação dos Trabalhadores Metalúrgicos do Rio Grande do Sul, percebe que a realidade pode ser bem diferente. Em um setor historicamente masculino, onde cerca de 80% da mão de obra é composta por homens, elas atuam juntas para transformar o movimento sindical e fortalecer a luta das mulheres trabalhadoras.

Atualmente, apenas quatro mulheres integram a direção da Federação, o que escancara a sub-representação feminina nos espaços de poder. Para enfrentar esse cenário, a criação de coletivos de mulheres tem sido uma ferramenta fundamental de organização e resistência.

Coletivo Gabi: onde começa a transformação
Foi dessa necessidade que nasceu o Coletivo Gabi, um espaço de formação e articulação de mulheres sindicalistas no Rio Grande do Sul. A iniciativa homenageia Gabi, diretora sindical do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre e secretária de Juventude da CUT-RS, falecida em 2021.

Além do coletivo estadual, já existem quatro coletivos regionais organizados nas bases dos sindicatos, localizados em São Leopoldo, Venâncio Aires, Cachoeirinha e Porto Alegre. Esses grupos cumprem um papel essencial de formação política e de fortalecimento da atuação feminina no chão de fábrica e nas direções sindicais.

“A nossa missão é construir coletivos de mulheres em todos os sindicatos que fazem parte da Federação”, afirma Eliane. “Isso fortalece o chão de fábrica. A gente percebeu que a maioria das mulheres que estão nas direções estão ali para compor chapas, mas não para decidir.”

Além dos coletivos, a visão da Federação também impulsionou outras transformações importantes: os sindicatos de Erechim e Passo Fundo hoje são presididos por mulheres, e em Venâncio Aires, a direção é paritária, um exemplo concreto de como a representatividade começa a ganhar espaço.

Do desafio ao empoderamento
O caminho até uma direção sindical ainda é repleto de barreiras. O apoio familiar, por exemplo, quase nunca está presente no início da jornada. “Apenas 5% das dirigentes sindicais dizem ‘eu vim porque minha família me apoiou’. O restante veio porque decidiu se desafiar. Muitas, ao tomarem essa decisão, acabam se separando”, relata Eliane.

Taíse reforça que, muitas vezes, entrar para o sindicato representa um ponto de virada na vida pessoal dessas mulheres. “Muitas estão em relacionamentos abusivos ou tóxicos. Ao entrarem para o sindicato, elas passam a conhecer seus direitos e percebem que há vida fora daquela situação. Não estão sozinhas. E, muitas vezes, essa consciência leva ao fim desse ciclo de violência.”

Da igualdade no papel à prática
Em julho, a Lei nº 14.611, que trata da igualdade salarial entre mulheres e homens, completou dois anos. Apesar de seu conteúdo já estar previsto na Constituição, a existência de uma lei específica mostra que sem o compromisso concreto da sociedade e das empresas, a igualdade permanece apenas no papel, especialmente quando esbarra em interesses econômicos.

A luta por igualdade no trabalho também passa pela formação. No dia 9 de agosto, acontece a formatura do curso “Direitos das Mulheres: formação social e profissional”, promovido pela Federação em parceria com o Instituto Integrar RS. A formação integra o Programa Manuel Querino de Qualificação Social e Profissional (PMQ), do Ministério do Trabalho e Emprego.

Unidas, elas avançam
A luta das mulheres no movimento sindical é feita de resistência, coragem e união. Com iniciativas como o Coletivo Gabi e programas de formação voltados à igualdade de direitos, cada passo representa um avanço contra o machismo estrutural e a exclusão nos espaços de poder.

Elas não estão sozinhas. E juntas, vão cada vez mais longe.

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