Movimento sindical e o meio ambiente

Artur Henrique defende construção de hidrelétricas. “Proteção ambiental tem de combinar com eliminaç

Artur Henrique defende construção de hidrelétricas: “Proteção ambiental tem de combinar com eliminação da pobreza”

Como viabilizar a sustentabilidade em um país que busca se desenvolver e romper com as desigualdades sociais e regionais?

ARTUR: Nós acreditamos que é plenamente possível crescer e se desenvolver, distribuindo renda, garantindo inclusão social e tendo como principal tripé desse modelo a sustentabilidade econômica, social e ambiental. Não somos daqueles que consideram impossível crescer sem destruir os recursos naturais. Mas também não achamos que o crescimento deva ser realizado a qualquer custo, destruindo o meio ambiente e agravando a já preocupante situação climática do planeta, como fazem alguns países e governos que não priorizam o equilíbrio entre crescimento econômico e desenvolvimento sustentável. Para nós, esses três aspectos devem ter a mesma prioridade.

É possível que os três aspectos recebam a mesma prioridade?

ARTUR: Claro. O Brasil não pode apenas crescer 8% ou 9% do PIB sem olhar se este crescimento garante inclusão social, distribuição de renda, diminuição da pobreza e das desigualdades, valorização do trabalho e atenção à questão ambiental. É preciso olhar para as mudanças climáticas, para a necessidade de reduzir emissões de CO₂, garantir mudanças no modo de produção e nos padrões de consumo. Não estamos falando apenas de crescimento econômico. O Brasil já cresceu 10% na década de 1970, mas sem distribuição de renda nem liberdade democrática. Hoje, temos um governo que demonstra ser possível aliar crescimento econômico a inclusão social. O governo Lula tirou 30 milhões de pessoas da miséria. É possível crescer distribuindo renda, promovendo inclusão social, implementando políticas públicas e com preocupação com a agenda ambiental.

Onde estão os maiores desafios para a sustentabilidade no Brasil?

ARTUR: Em várias áreas. A primeira é o planejamento. Qualquer projeto de desenvolvimento deve ser de curto, médio e longo prazo, superando governos e mandatos. Deve ser fruto de diálogo entre governos, trabalhadores, empresários e sociedade civil para estabelecer prioridades e mecanismos. Outro desafio é estabelecer metas de crescimento, geração de empregos decentes, diminuição das desigualdades, e garantir políticas públicas para alcançá-las, sempre considerando os interesses sociais.

Mas não existem interesses conflitantes entre os atores sociais?

ARTUR: Existem, e muitas vezes se sobrepõem ao interesse coletivo. Um exemplo é o debate sobre política energética no Brasil. Quando levamos energia elétrica a uma família através do programa Luz para Todos, essa família começa a consumir mais — compra uma geladeira, por exemplo — e isso aumenta o consumo de energia, o que não é bom para o meio ambiente. Mas se em vez disso acionamos termelétricas a óleo diesel, o impacto ambiental é ainda maior. A matriz energética brasileira já é bastante limpa e renovável, mas precisamos discutir se os grandes projetos hidrelétricos ainda fazem sentido ou se devem ser reformulados. Também é importante investir em ciência e tecnologia para produzir mais energia com menos impacto, além de pequenas centrais hidrelétricas.

Mas outros países estão investindo em fontes mais limpas…

ARTUR: Não adianta pensar que vamos encher o Brasil de cata-ventos para gerar energia eólica. Eles também têm impactos — ambientais, sonoros — e produzem pouca energia comparada a pequenas hidrelétricas. É importante diversificar, mas não podemos acreditar que apenas energia solar ou eólica resolvam tudo.

Esses questionamentos não partem muitas vezes das próprias populações?

ARTUR: Sim, mas infelizmente no Brasil ainda se faz muito sem dialogar com os atores sociais, sem construir alternativas, compensações ou obras que minimizem os impactos. Qualquer obra gera impactos, seja ambiental, seja para as populações locais. É fundamental ter diálogo e buscar alternativas.

E às vezes isso emperra os projetos…

ARTUR: Às vezes falta diálogo, ou mesmo com diálogo as pessoas não aceitam a obra por razões importantes do ponto de vista individual ou de um grupo menor, mas que não consideram os benefícios para um grupo maior. Por exemplo: quando órgãos como Tribunal de Contas, Ministério Público ou ONGs entram com ações para barrar uma obra por causa de impactos ambientais. Muitas vezes os argumentos são legítimos, mas o atraso da obra faz com que o país recorra a soluções ainda mais danosas ao meio ambiente, como termelétricas. É preciso encontrar o equilíbrio. Deixar tudo como está, como defendem alguns, não resolve a desigualdade no mundo. Não podemos permitir que 1 bilhão de pessoas continuem passando fome enquanto outros têm padrões de consumo insustentáveis. Precisamos mudar o modo de produção e consumo.

E o pré-sal? Também vai gerar impactos…

ARTUR: Não podemos deixar que o pré-sal destrua nossa matriz energética. Parte dos recursos do pré-sal deve ser destinada a ciência, tecnologia e pesquisa para reduzir os custos de energias limpas como solar, eólica, biomassa. Precisamos diversificar cada vez mais nossa matriz para reduzir o uso de termelétricas e de grandes hidrelétricas. O apagão de 2001 mostrou a irresponsabilidade da falta de planejamento. Eu não quero que o Brasil viva isso de novo. Só com planejamento garantiremos diversidade, eficiência e sustentabilidade na nossa matriz energética.

Fonte: CUT

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