CUT: Brasil está preparado para crescimento econômico sustentável

Como já era esperado, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2009 alcançou índice próximo a zer

Como já era esperado, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2009 ficou próximo de zero. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a retração de 0,2% mostra que o país sofreu muito menos com a crise do que nações como Estados Unidos (queda de 2,4%), Alemanha e Japão (ambos com queda de 5%).

A aposta do governo Lula na expansão do mercado interno e no Estado como indutor do desenvolvimento — por meio da redução de impostos, da oferta de crédito através dos bancos públicos e do investimento em infraestrutura — mostrou-se acertada.

Porém, é importante lembrar que nem todos apostavam nessa saída. Alguns, inclusive representantes de trabalhadores, defenderam uma agenda negativa, que incluía a flexibilização de direitos e a redução de salários.

Em entrevista ao Portal Mundo do Trabalho, o presidente nacional da CUT, Artur Henrique, comenta o PIB, a luta da CUT pelo desenvolvimento contínuo e destaca o embate político por um modelo de desenvolvimento inclusivo e democrático.

Portal Mundo do Trabalho:

Apesar da queda de 0,2%, o PIB brasileiro foi o sexto maior entre os países do G20. Como você avalia esse índice?

Artur Henrique:
Para quem previa uma catástrofe, o resultado foi surpreendente. Isso se deve a vários fatores. Primeiro, à postura das centrais sindicais, especialmente da CUT, que, desde setembro de 2008, cobraram uma agenda positiva de empresários e do governo. Precisávamos enfrentar a crise fortalecendo o mercado interno, o que dependia de ações como a valorização do salário mínimo, políticas públicas e sociais do governo Lula e a liberação e ampliação do crédito.

PMT:

Inicialmente, os bancos privados dificultaram o acesso ao crédito. Como foi possível reverter essa situação?

Artur:
As centrais pressionaram muito o governo para liberar o crédito compulsório retido no Banco Central. Mesmo após a liberação, os bancos privados emprestavam apenas para grandes empresas, com risco quase zero, deixando de fora micro e pequenas. Quem precisou intervir como indutor e executor do desenvolvimento foi o Estado, por meio da Caixa, do Banco do Brasil, de programas como Minha Casa, Minha Vida, do PAC, da redução de impostos com contrapartidas e investimentos em infraestrutura.

PMT:

Quem apoiou a CUT nessa iniciativa?

Artur:
Tivemos apoio de muitos empresários no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) e também do governo. Essas políticas fizeram com que o Brasil entrasse mais tarde na crise e saísse mais cedo. Quando se olha o PIB próximo de zero, pode parecer ruim, mas comparado à queda média de 4% na União Europeia, por exemplo, a situação aqui foi bem melhor. O Brasil está preparado para crescer de forma sustentável, espero, de 5% a 6% em 2010.

PMT:

Quais problemas o Brasil ainda precisa resolver para crescer a longo prazo?

Artur:
Vivemos um momento rico para discutir o modelo de desenvolvimento. Os modelos até aqui foram derrubados — caiu o muro de Berlim e, com a crise de 2008, caiu o muro de Wall Street. Precisamos criar formatos democráticos, com inclusão social, distribuição de renda, valorização do trabalho e preocupação ambiental. Para isso, o pleno emprego e a redução da jornada são fundamentais.

PMT:

Por que a redução da jornada é importante?

Artur:
Não podemos ter uma sociedade em que as pessoas só vivem para trabalhar. É preciso tempo para lazer, cultura, convivência familiar. O período de estudo, por exemplo, também deveria ser valorizado como trabalho para a sociedade. Queremos um projeto de longo prazo, por isso discutimos a Plataforma de Desenvolvimento da Classe Trabalhadora.

PMT:

O parlamento já foi convencido da importância da redução da jornada?

Artur:
Ainda não. Se o presidente da Câmara colocar o projeto em votação, acredito que teríamos mais de 90% dos votos, porque nenhum parlamentar quer se opor aos trabalhadores em ano eleitoral. Mas, na prática, a maioria foi eleita com financiamento empresarial. Enquanto não houver uma reforma política para garantir eleições baseadas em propostas e com financiamento público, a disputa será desigual.

PMT:

Depois da aposta do governo Lula no Estado como indutor do desenvolvimento, ainda há espaço para defensores do Estado mínimo?

Artur:
Esse debate deveria estar superado, mas ainda persiste, incentivado por parte da mídia. O Estado deve ser indutor, regulador, executor e promotor do desenvolvimento. O exemplo dos bancos públicos e do BNDES mostra que o Estado executor é fundamental, não no modelo centralizador, mas como planejador.

Há quem culpe o “gasto público” pelos problemas dos países mais afetados, mas o que defendem é menos Estado, menos proteção social. Nós defendemos um sistema de seguridade, educação e saúde universais e de qualidade, com servidores bem remunerados e em número adequado para atender às demandas. O PSDB, por exemplo, durante o governo FHC, desmontou o Estado brasileiro, defendendo cortes de gastos públicos que, na prática, significam menos reforma agrária, menos fiscalização do trabalho, menos direitos. Queremos o oposto: um Estado forte, que atenda à população.

Fonte: CUT

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