Curso da Escola Sul da CUT propõe formação contínua e provoca reflexão sobre o papel dos dirigentes sindicais no século XXI

“Só sei que nada sei.” A famosa frase atribuída a Sócrates, embora repetida à exaustão, ainda causa certo desconforto. Afinal, alguém como ele devia saber alguma coisa. Mas sua disposição em questionar o próprio saber revela algo essencial: a verdadeira sabedoria começa com a dúvida. Reconhecer que não se sabe tudo não nos lança à ignorância, mas nos conduz ao aprendizado contínuo.

Esse foi o ponto de partida do Curso de Formação de Dirigentes Sindicais, promovido pela Escola Sul da CUT, realizado nos dias 26, 27 e 28 de junho, em Porto Alegre. A atividade reuniu lideranças sindicais de diversas regiões do Rio Grande do Sul e teve como proposta provocar uma reflexão profunda sobre o papel do movimento sindical frente aos desafios do século XXI.

A formação proposta pela Escola Sul foi organizada nos 3 estados da região

Dirigentes experientes, alunos em constante formação

Apesar de contar com dirigentes já atuantes e experientes, o curso propôs que todos voltassem à condição de aprendizes. A ideia, simples e transformadora, foi clara: não existe ponto final na formação de quem quer transformar o mundo. Para isso, foi necessário revisitar práticas, repensar estratégias e atualizar o repertório diante de novas realidades.

A formação foi dividida em quatro módulos, que abordaram desde a análise da formação histórico-cultural da Região Sul e o resgate das lutas sindicais, até temas contemporâneos como inteligência artificial, metaverso, ideologia, cultura, novas formas de gestão sindical e organização de base.

Tayliny Battistella apresentou dados sobre a formação da população brasileira

Mais que o básico: cultura, política e tecnologia no centro do debate

No primeiro dia, o educador popular Cláudio Nascimento, referência nacional na formação sindical, apresentou um panorama das lutas e disputas que culminaram na criação da CUT. Também abordou os desafios atuais da classe trabalhadora, com destaque para a crescente preocupação com a saúde mental nas relações de trabalho e na militância. Para Nascimento, era necessário revisitar as origens do sindicalismo sem perder de vista as contradições do presente.

Claudio Nascimento foi um dos organizadores do livro “A geração que criou a CUT”

A educadora popular Salete da Aparecida Martins, uma das facilitadoras do curso, trouxe provocações diretas ao grupo: como reverter o afastamento da base? Quem é, hoje, a base do movimento sindical? Que espaços deixamos de ocupar? Para Salete, a formação política não pode ser vista como etapa superada, mas como processo permanente e estratégico para a reinvenção do próprio movimento.

Já a historiadora Tayliny Battistella ressaltou que o momento atual exige mais do que resistência: exige reinvenção. Citando Bell Hooks, ela lembrou que “a educação como prática de liberdade é um feito de ensinar que qualquer um pode aprender.”

Leitura crítica e comunicação estratégica

No segundo dia, os participantes foram divididos em grupos para a leitura coletiva de trechos do livro “Sobrevivendo ao Século XXI”, que reúne reflexões de Noam Chomsky e José Mujica. Mas a atividade foi além da leitura: os grupos transformaram os conteúdos em vídeos, discutindo temas como democracia, disrupção tecnológica, neoliberalismo, batalhas culturais e outras tensões contemporâneas. O exercício reforçou a importância da comunicação como ferramenta estratégica da ação sindical.

Amarildo Cenci, presidente da CUT RS, também virou aluno no curso de formação

Jornada de trabalho, fragmentação das lutas e reinvenção sindical

O encerramento do curso, no dia 28, teve como foco o debate sobre como enfrentar a fragmentação das pautas trabalhistas e os efeitos da agenda neoliberal na organização dos trabalhadores. A redução da jornada de trabalho sem redução de salários, uma bandeira histórica do movimento sindical, também esteve em pauta à luz das mudanças tecnológicas e da automação.

Mesmo após décadas, a história de luta dos metalúrgicos do ABC segue sendo referência de potência dos trabalhadores

Sindicato presente

Mesmo em meio a uma intensa campanha salarial, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Porto Alegre, Adriano Filippetto, fez questão de participar do curso. “Pela importância do conteúdo e da troca de experiências, não poderia ficar de fora”, afirmou.

Dirigentes sindicais metalúrgicos, bancários, educadores, petroleiros reunidos para debater democracia e autogestão através da leitura do livro “Sobrevivendo ao Século XXI”

Escola Sul: mais de três décadas de formação e resistência

Criada em 11 de junho de 1990, a Escola Sul da CUT integra a política de formação da Central, com foco nos três estados do Sul do Brasil. Sua missão é fortalecer a reflexão sobre a prática sindical, formular e sistematizar políticas e ações que contribuam com a disputa de hegemonia na sociedade e a organização da classe trabalhadora em todos os espaços de luta.

A formação sindical promovida pela Escola é voltada para dirigentes, lideranças, trabalhador@s de base, formador@s e assessor@s do movimento sindical. A atuação em rede permite atingir diferentes públicos e temáticas, sempre considerando a realidade local dos estados da região.

Luiza Alves – Comunicação STIMEPA

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